11/04/11

Importa-se de explicar?

Uma ideia que, apesar de muito difundida, não faz grande sentido para mim é a ideia de que precisamos de gostar de nós mesmos para gostar dos outros. Estou convencido, aliás, de que é por ela não fazer grande sentido que é repetida sem nenhuma explicação (e muito menos provas, claro está…): é sempre possível arranjar explicações engenhosas seja lá para que postulado for, por pouco lógico ou verificável que seja, mas mais engenhoso do que qualquer engenhosa explicação é o artifício retórico de apresentar esse postulado como sendo tão óbvio que não precisa de ser explicado...

3 comentários:

Nuno (@gmail) disse...

Eu acho que é ao contrário e avanço outra proposição: gostando dos outros, mostrando empatia e compaixão, acabamos por gostar mais de nós mesmos.
Porquê? Que sei eu... talvez tenhamos na cabeça um mecanismo que premeie a empatia. Para que não andemos a matar-nos uns aos outros cada vez que a necessidade imediata sugira ser essa a melhor estratégia.

Vítor Lindegaard disse...

Estou perfeitamente de acordo contigo, Nuno, embora prefira ver a questão de uma perspectiva ligeiramente diferente, a da acção em vez dos sentimentos apenas: fazendo bem aos outros, sentimo-nos valorizados. E também creio que isso se deve, muito provavelmente, a um mecanismo inato. Que a reciprocidade seja um instinto de base, parecerá óbvio a toda gente: se alguém me agride, isso desagrada-me e marco o ser que me agride como inimigo; se me fazem bem, isso agrada-me e passarei a considerar meu amigo quem me fez bem. Agora, tem sido demonstrado que, nos seres humanos, este instinto de reciprocidade não se aplica só de forma directa, mas que há também um instinto de reciprocidade indirecta: não vou ao funeral da Ana para ela vir ao meu funeral, mas para que haja outras pessoas a vir ao meu funeral. O bem que se faz não é só valorizado pela pessoa a quem se faz bem, mas pela comunidade em geral, cujos membros reconhecem como boa a pessoa que faz bem, mesmo que ela não lhes tenha feito bem directamente a eles, e a recompensam por isso. Em última análise, da mesma forma que a consciência de si pode bem ser apenas a projecção “para dentro” da consciência dos outros (há boas razões para crer isso, do ponto de vista evolutivo), também a autovalorização pode bem ser apenas uma forma de valorização dos outros: eu gosto de mim porque faço bem aos outros exactamente da mesma maneira e pelas mesmas razões que gosto de qualquer outra pessoa que faz bem aos outros. Isto faz sentido para ti ou achas que eu estou a delirar?

Nuno (@gmail) disse...

Sim, faz sentido.