Da inter-relação profunda entre pensamento e linguagem, ninguém duvida, mas nem todos estão de acordo – longe disso – sobre como se organiza essa inter-relação: Qual das duas capacidades surge primeiro? Existe uma relação de determinação entre uma e outra?
Acho que observar de perto o crescimento de uma criança mostra claramente que não é verdade que o pensamento surge à medida que surge a linguagem, porque é determinado por ela, ou seja, porque é preciso língua para se pensar. Quero só contar a observação da minha filha de cinco anos, um dia destes ao jantar, a propósito de uma dificuldade que acabava de ter em dizer o que queria:
“Muitas vezes, eu penso numa coisa, mas depois não sei as palavras para dizer o que penso.”
Estará a Siri a ser vítima de um engano ou, como eu penso, a dar conta de um facto simples?
Eu concluiria o contrário a partir deste episódio. Que há consciência, talvez um tanto nebulosa, do que se pensa, mas ainda faltam as palavras... para concretizar melgor.
ResponderEliminarObrigado pelo comentário, Ana!
ResponderEliminarÉ uma discussão difícil, por falta de observáveis. E provavelmente também por falta de acordo sobre o que é ao certo pensar. Se tu dizes que há consciência, por muito nebulosa que seja, «do que se pensa», então há forçosamente pensamento antes de se o saber dizer. Agora, o que queres dizer com «concretizar melhor»? Que só quando se torna suficientemente organizado para ser facilmente transmissível é que o pensamento é pensamento? Que há outro tipo de atividade mental anterior à atividade cognitiva? Bom, para mim, a essência do pensamento não é ser concreto. Pode ser, mas também pode não o ser.
Curiosamente, ainda antes de ter recordado este texto por causa da séria de posts que estou a fazer no Facebook, comecei a escrever um texto sobre este tema, com base numa experiência muito concreta que tive no outro dia, quando tive de refletir sobre ostomia sem ter palavras para o fazer em língua nenhuma. Quando o texto estiver pronto e publicado, eu mando-to.