17/12/11

Conto de Natal

[Este texto é uma versão revista de uma passagem das minhas Crónicas do Alto Molócuè, umas cartas coletivas que escrevia aos amigos, quando morava na Alta Zambézia.]

A história passa-se no Alto Molócuè, em Moçambique, no ano de 1997. Estava combinado um jantar com uma malta lá da terra e a Karen queria fazer uma coisa típica dinamarquesa, com almôndegas e velas e tudo. Então, lembrou‑se que tinha ali uma caixa com uns enfeites de Natal, que uma cooperante dinamarquesa lhe tinha dado um ano antes, quando ela tinha chegado a Moçambique. A caixa tinha estado uns dois meses na sala de estar da guest‑house da organização para a qual a Karen trabalhava, em Quelimane, e depois ela tinha-a levado lá para casa e tinha-a posto no quarto que me servia de escritório, a um canto.

Agora vejam lá: quando abrimos a caixa, vimos que, além de bolinhas e coraçõezinhos brilhantes, estava lá também um envelope com 1508 dólares americanos, qualquer coisa como 1150 euros ao câmbio atual! De quem seria o dinheiro?

A Karen pegou no telefone de satélite que tínhamos para emergências (ainda não havia telefone no Alto Molócuè nessa altura) e telefonou para a Dinamarca, à rapariga que lhe tinha dado as decorações de Natal, para saber se lhe tinha desaparecido muito dinheiro. Mas não. Quando a Karen lhe contou a história, a rapariga explicou‑lhe que a caixa nem era dela. Tinha estado dois anos em casa dela, mas ela nem sequer a tinha aberto. Tinha-a recebido de um casal de dinamarqueses que tinha morado naquela casa antes dela, que, por sua vez, a tinha recebido de outro casal de dinamarqueses que tinha lá morado antes... Era impossível saber de quem era o dinheiro. De maneira que…

…um Natal cheio de caixas destas, ora aí está o que eu vos desejo!
*

2 comentários:

  1. Vou já começar a rebuscar todas as caixas de velas que por aqui tenho!
    :-)

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  2. Quer dizer, as caixas com enfeites de natal.
    (vou é dormir, amanhã começo a tratar disso)

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