18/11/13

Uma injustiça… ou O que se diz, quem o diz e quando…

É difícil fazer previsões, especialmente sobre o futuro. 
A frase é conhecida em múltiplas traduções e atribuída a muita gente, mas parece provável que tenha origem escandinava. O autor, não se sabe ao certo quem tenha sido…

A frase dinamarquesa é Det er svært at spå, især om fremtiden e o verbo spå descreve, na origem, o que fazem bruxos, adivinhos e videntes: “adivinhar o futuro” (atualmente, significa também fazer profetizar sem auxílio de artes mágicas de tipo nenhum…). Uma tradução mais literal da frase seria “É difícil profetizar, sobretudo o futuro.”

Muitas vezes, a frase é atribuída ao físico Niels Bohr ou ao humorista Storm P. (Robert Storm Petersen), mas eles parecem não ter feito mais que repetir o brincalhão aforismo, que era já conhecido na altura. O político K. K. Steincke refere a expressão num livro de memórias de 1948, dizendo que ela tinha aparecido no parlamento dinamarquês entre 1935 e 1939. Há, porém, um registo mais antigo de uma frase semelhante, que poderia estar na origem da piada dinamarquesa: o norueguês Fredrik Paasche teria escrito em 1918, num artigo no jornal Samtiden, “Det er en vanskelig sak å spå om fremtiden”, “É coisa difícil profetizar o futuro”. Talvez a tradução portuguesa soe apenas a redundância, mas, a julgar pela maneira como a frase é referida na discussão da origem da expressão, parece que, em “escandinavo”, soa claramente a dito espirituoso e não a erro.

Nem imaginam o que se tem escrito sobre a origem desta frase*… Agora, o que eu quero com esta conversa toda é dar conta de uma injustiça: se for Niels Bohr ou Storm P. a dizer uma coisa assim, acham todos muita graça à boutade (pois, pois, boutade, para ser mais fino); se for o João Pinto a dizer que só faz prognósticos no fim do jogo, a reação é logo outra… Já viram como vocês são?
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* Para não vos mandar para páginas em dinamarquês ou norueguês, eis um resumo da discussão em inglês (com uma incorreção pelo meio, felizmente notada nos comentários). Este texto tem um bónus no fim, um delicioso excerto de um discurso de Michael Berry sobre a atribuição de ideias científicas.

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