Sobre os nomes de localidades que têm artigo definido, dizem às vezes os professores de português aos seus alunos estrangeiros que, se o nome do lugar significa alguma coisa além de referir a localidade, leva artigo; senão, não leva. O Porto é o exemplo mais comum. Mas não é verdade: ninguém diz “o Castelo Branco” nem “a Vila Franca”, e diz-se “a Bobadela” e “a Azambuja”…
Não há de facto regra nenhuma para o uso de artigo com os topónimos e há até muita oscilação de falante para falante: se todos estão de acordo que se diz “a Beira” (e, consequentemente “na Beira”, “pela Beira”, “da Beira”, etc.) e que nunca se diz “o Faro”, já há quem diga, por exemplo, “o Chimoio” ou só “Chimoio” (“vivo no Chimoio” ou “vivo em Chimoio”), “o Maputo” ou só “Maputo” (“ela está no Maputo” ou “ela está em Maputo”), “a França” ou só “França” (“estivemos em França” ou “estivemos na França”), “a África” ou só África(“viveu muito tempo em África” ou “viveu muito tempo na África”), “o Algueirão” ou só “Algueirão”. Neste último caso, se alguém me disser que esteve “em Algueirão”, fico logo a saber que não é dali da zona; mas não fico nunca a saber nada de uma pessoa por ela usar ou não o artigo em Chimoio ou Maputo…
Talvez fosse boa ideia, não sei, que se aceitasse que o artigo faz parte do nome, como se faz às vezes em França (Le Mans, Le Puy-en-Velay, Le Havre, Les Vans...): « Je viens du Puy, je vais au Mans et puis après au Havre »). Uma proposta brincalhona que ouvi várias vezes aos meus alunos estrangeiros é que, nas placas com os nomes das localidade, se ponha por baixo de cada uma “cidade/vila/etc. com artigo/sem artigo” conforme o caso: “Luanda – cidade sem artigo”; “Rio de Janeiro – cidade com artigo”; “Chimoio – cidade com ou sem artigo, à vontade do freguês…” Não sei se estão a ver…
Agora, porque é que os professores dão a tal regra aos alunos, se não é verdade? Bom, há alunos que ficam apreensivos quando se lhes diz “não há regra”. Ou mais ainda, creio eu, se se lhes diz “não sei a regra” ou “não quero dizer a regra”. (Na realidade, é bem possível que se conheça uma regra que o professor não sabe ou que a regra, por provável que seja a sua existência, seja desconhecida de toda a gente; ou que o professor até saiba a regra, mas que ela seja demasiado complicada para quem não tenha um nível muito elevado de conhecimentos de língua…). Mas nem sempre é por causa dos alunos. Também há professores que não gostam de dizer “não sei”. Conheço casos (felizmente raríssimos) de professores que inventam regras estapafúrdias só para não dizerem que não têm regra para dar. Tudo isto é bastante inútil, enfim, na maior parte dos casos, porque a grande maioria das pessoas não aprende a usar a língua tomando consciência das suas regras – mas isso é outra conversa.
Outra conversa também, com uma relação mínima com o que fica para trás, é a que se segue:
Estávamos no outro dia, como sempre acontece quando se juntam pessoas que trabalharam muito tempo com cooperação para o desenvolvimento, a tentar avaliar as razões da sua falta de eficácia e a alvitrar formas possíveis de a melhorar. A certa altura, alguém comentou que as grandes mudanças de políticas de cooperação para o desenvolvimento não resultam da constatação no terreno de que a estratégia utilizada não está a funcionar, mas de uma ideia inovadora, num gabinete qualquer, de alguém que não tem de facto informação sobre o que está ou não a resultar.
Isto fez-me pensar nos professores e na evolução das técnicas e materiais.
É claro que há muita investigação feita sobre aprendizagem e que essa investigação se reflete nas reformas educativas – nos programas e nos materiais disponíveis, elaborados em função de metodologias específicas. Já há muito tempo que assim é, aliás, e assim deve continuar. Mas, a um nível mais local, digamos assim, notei muitas vezes que se muda – sem saber, sem poder saber, o que se está a fazer bem e a fazer mal – apenas porque se quer variar, porque se está farto do tédio e da rotina, porque se quer fazer uma coisa nova, experimentar uma ideia que se teve, por mais indocumentada que seja a sua eficácia.
E está muito bem assim, porque não? Também conta na aprendizagem (não sei se muito, mas um bocadinho) o entusiasmo com que o professor incentiva o aluno a aprender – um professor que gosta do que faz. Tudo o que contribua para ele não se deixar enredar na rotina e no tédio está muito bem…
P.S.: Não depreendam daqui que a minha experiência me diz que os professores gostam, em geral, de passar a vida a mudar o que ensinam e como o fazem. Até há alguns que, pelo contrário, barafustam de cada vez que têm de mudar seja lá o que for…
Deve haver tempo para tudo, para mudar mas também para permanecer. Na educação em Portugal tem havido talvez mudança excessiva, mesmo agora que temos um ministro adepto de métodos mais antigos, temos a mudança dos novos para os antigos!
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