Em português, se é certo que «não comas isso» pode cobrir ambos os casos, também há maneiras de distinguir entre a injunção para parar de comer e a injunção para não começar a comer. A entoação é uma delas: o «não comas isso» desgostado de quem diz a outra pessoa para parar de comer uma coisa que descobriu estar bem fora de prazo, por exemplo, é muito diferente do «não comas isso» de alarme de quem pensa que a outra pessoa vai provar um fruto venenoso. Além disso, o imperativo da perífrase estar a comer ou estar comendo só se pode usar para mandar parar de comer – não se pode dizer «não estejas a comer isso» a quem ainda não meteu nada à boca.
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Além disso, tenho também a certeza de que, ao contrário do que ouvi muitas vezes afirmar, os animais têm um sentido do porvir.
Uma amiga minha dizia-me há pouco tempo, depois de ter passado um bocado a fazer truques simples de prestidigitação à minha cadela, que era óbvio que os cães têm expetativas sobre o que se vai passar, donde decorre forçosamente um sentido de futuro, mesmo que, mais uma vez, provavelmente menos complexo que o nosso. É claro que tinha toda a razão.
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Agora, voltando aos imperativos negativos, tenho a ideia de que a minha cadela percebe facilmente a ordem para deixar de fazer alguma coisa („Nej!”), mas que não percebe a ordem para não iniciar o que não quero que ela inicie… A não ser, talvez, naquele momento em que já decidiu o que vai fazer, mas não teve ainda tempo de iniciar a ação...
Não percebo como poderá alguém reservar exclusivamente para a espécie humana o sentido do porvir. É evidente por exemplo em qualquer cena de caça que quer o caçador quer a presa têm espectativas sobre o que o outro vai fazer e tentam contrariar o objectivo do oponente.
ResponderEliminarDe uma forma geral a tradição judaico-cristã favorece a distinção entre os seres humanos e "o resto da criação". Existe fundamento para essa ditinção mas não tanto como é (ou era) hábito considerar.
Noutro plano mais elaborado li algures que os chimpanzés são capazes de mentir. É sinal que são capazes de imaginar um mundo diferente daquele em que vivem.