Publiquei aqui na Travessa, há mais de dez anos, um poema meu em que ando às voltas de uma ideia que Jorge Luis Borges apresenta em forma lírica no início do seu maravilhoso “Elogio da la sombra” (traduzo eu):
A velhice (tal é o nome que os outros lhe dão)É capaz de ser sobretudo entusiasmo de literato essa ideia de que a velhice (seja qual for o nome que os outros lhe deem) é «o tempo da alma», PORQUE desapareceu já a parte mais animalesca, mais ssssibilante de nós — o anseio de sabores e sexos e toda a classe de satisfações... Não sei se tem muito a ver com a realidade de envelhecer para a maioria das pessoas. Há com certeza velhices assim, em sendo boa a saúde, e é possível que a de Borges tenha sido como a quis, homem e alma, esvaziada de animalidade.
pode ser o tempo da nossa ventura.
O animal morreu já ou morreu quase.
Restam o homem e a sua alma.
A questão é também como se deve entender alma. Se se entender alma como espiritualidade, ou mesmo como mente, creio que a velhica é muitas vezes ao revés de como Borges a quer: vai-se esvaindo a espiritualidade, se alguma houve, como se esvai tudo o resto: as forças, enfim, a memória, a paciência, a concentração…
É claro, velhices há muitas. Na velhice que tenho à minha volta, porém, vejo antes simplificarem-se a vida e os seus prazeres: comer, dormir, gozar a inatividade e o calor do sol, se dele se apanha um bocadinho — o que, por muito que possa soar a demasiado animal, também está muito bem.
Esquerda: Autor desconhecido: Velha dormindo, sem data, gravura,
cópia de Rembrandt. The Met, Nova Iorque, daqui. Direita: Rembrandt: Velho sentado numa poltrona, 1631, daqui. |
Ainda me sinto um bebê,porém ainda com cabelos, dentes, não fico no berço o dia todo e nem estou usando fraldas. Mas, comparando o pensamento do poeta e a experiência vivida, também penso assim, por isso,temos que cuidar do cérebro, esse não envelhece.
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