M. tem agora 99 anos. Há já muito tempo que anda zangada: com a família, com o pessoal do apoio domiciliário, com o centro de dia… E com Deus:
«Quando era jovem, gritei para quem me queria ouvir que Deus era uma porcaria. Bom, na altura não acreditava nele, por isso achava que podia dizer o que quisesse sobre ele, sem que isso tivesse consequência nenhuma. Na realidade, não pensava muito nisso. Mas agora é diferente, agora estou sempre a pensar nisso. Agora acredito que Deus existe e que há um Céu e um Inverno para onde nós vamos quando morrermos. E por isso sei que que vou para o Inferno. Agora, não pense que a minha opinião sobre Deus mudou desde que acredito que ele existe. Sou contra Deus e as suas leis e os seus crimes. Não acredito que os deuses tenham direito a mandar na gente. Era o que faltava! E o mal todo que ele faz? Devia haver um tribunal para julgar Deus!»
Ficamos alguns segundos em silêncio (não sei o que hei de dizer…) e M. continua:
«E agora, diga lá, o que acha que devo fazer: continuo a pensar na morte ou vou até à taberna?»
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