09/08/11

Crónicas de Svendborg #3: Muito azeite e muita manteiga


Costuma traçar-se linhas que unem zonas de, por exemplo, igual temperatura, as isotérmicas. Em dialetologia, traçam-se linhas que dividem zonas de pronúncia ou léxico diferentes, a que se chama isoglossas. Também é possível fazer o mesmo em relação à gastronomia (e alguém já o deve ter feito...), mas não sei como se poderia chamar a essas linhas. Aceito propostas – desde que não sejam isogástricas, isso está fora de questão.
Na Europa, por exemplo, uma linha fundamental que se pode traçar é a que separa a cozinha a azeite da cozinha a manteiga (tradicionalmente, note-se, porque hoje cozinha-se com todos os ingredientes em todo o lado)*. E a cultura do azeite e a cultura da manteiga têm, cada uma, marcas linguísticas surpreendentes, para quem venha da outra cultura: os dinamarqueses admiram-se quando eu lhes digo que temos uma expressão (ser coruja) para designar o hábito de pôr muito azeite na comida e os portugueses surpreendem-se quando lhes digo que existe em dinamarquês um nome, tandsmør, que designa o ato de pôr muita manteiga no pão. Muita mesmo, assim uma camada com meio centímetro ou mais de espessura…
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* É uma divisão diferente da que assinalam as isotérmicas ou as isoglossas, note-se, porque também há manteiga na zona de cozinha a azeite, mas não há azeite na zona de cozinha a manteiga...

4 comentários:

  1. Genial! Bem, já que aceita sugestões, lembro-me de duas óbvias: Isogastronómicas ou Isodietéticas, numa alusão gastronomia ou dieta mediterrânica...

    (um) beijo de mulata

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  2. Ora ainda bem que não fico sempre a falar sozinho! Talvez um dia venha a transformar esta conserva num texto de blogue, se tiver inspiração para tal e tempo para a pesquisa que um texto assim implica.
    Muito obrigado pelas propostas. Isogastronómicas foi a primeira coisa que me veio à cabeça, mas achei a palavra demasiado comprida e daí é que surgiu a brincadeira das isogástricas. Evidentemente, não há nenhuma boa razão para a palavra não ser comprida, mas as que há dessa família são tão maneirinhas, tão jeitosinhas, não é?: isóbaras ou isobáricas, isotérmicas, isoglossas… Agora, de isodietéticas não me tinha conseguido lembrar. Acho boa ideia, sim senhora. O ideal seria que se conseguisse reduzir ainda mais, a isodiéticas, mas isso não deve ser possível, acho que nunca vi nada assim…
    Para além de grandes zonas como a do azeite e da manteiga, do vinho e da cerveja, podiam definir-se outras áreas mais específicas, a partir de um produto (zona do tomate, por exemplo ou da beterraba, ou do arenque) ou de uma forma de o preparar (por exemplo, o arenque marinado vai do Norte da Alemanha à Finlândia, e acho que coincide com a zona da sopa de ervilhas secas, mas não tenho a certeza; a couve fermentada vai da Alsácia à Bulgária, se não estou em erro; etc.). Um mapa assim teria também pequenas zonas a que poderíamos chamar "ilhas", como zonas de cidra, por exemplo, que aparecem tanto no meio da zona do vinho como no meio da zona da cerveja, estou eu em crer. Era engraçado, não era?

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  3. Outra sugestão: "isolipas" para distinguir as zonas do azeite e da manteiga.
    E "isoclupas" para distinguir as zonas da sardinha e do arenque. "Isoclupeidas" soa um bocado mal.

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  4. Caro Nuno, ficam registadas as sugestões. E acho boa ideia: como se dividem as isoglossas em isoléxicas e isófonas, faz sentido dividir as isodietéticas em isolipos, isoclupas - e mais umas quantas para as quais ainda havemos de arranjar nome. Mas acho que devia ser isoclupeias - sem o d, claro. E pronto, agora que já temos vocabulário técnico, só falta o estudo propriamente dito...

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