19/06/18

Um santo p'ra pular ou não e uma marcha de chacha... perdão, da chacha

Se há festa comum a toda a Europa (e a toda a América, mas disso não sei muito) é a festa do equinócio de verão, conhecida em muitos países como festa de S. João. É sempre uma festa com fogueiras, mas os pormenores da festa, variam, é claro, de país para país. Por exemplo, na Estónia, Letónia, Hungria e Portugal, salta-se a fogueira, mas na Dinamarca, em França, em Itália e na Noruega não. Etc. (A página "Midsummer" da Wikipédia em inglês tem um resumo das diferentes tradições)

Em Portugal, não nos basta o equinócio e alargámos a festa para os lados – de 13 a 29, ele é fogueiras e folia por todo o lado... Como, felizmente, não posso estar presente, deixo aqui a minha modesta contribuição para os festejos dos Santos Populares: uma marcha que escrevi há uns 35 anos e que nunca chegou a ser musicada. Uma marcha com uma perspetiva mais abrangente que o habitual, já que, em vez de falar da especificidade de um bairro de Lisboa, fala de uma especificidade da malta de todos os bairros de todas as cidades, vilas e aldeias portuguesas (e não me levem nisto a sério, sim?).

Marcha da chacha

Passa meio mundo a vida
a dar a volta a outro meio,
qu’isto em questão de paleio
‘tá a gente bem servida;
Mas, com conversa fiada,
o problema é que, no fundo,
dá-se a volta a meio mundo
sem se dar a volta a nada.

‘Tá no espírito do povo
a converseta de chacha;
se aparece um grupo novo,
que graça que a gente lh’acha!
E se houvesse um mundial
do falar só por falar,
vinha o ouro e vinha a prata,
vinha o bronze e vinha a lata,
vinha tudo cá parar.

Quando se arma algum banzé,
quem tiver mais converseta
é que leva a bicicleta
– e o outro vai a pé.
Muito fala este povinho,
‘tá sempre, sempre na tanga;
depois vai queixar-se ao ganga
quando anda a falar sozinho.

E é assim esta gente:
a converseta é que é obra!
Só fica mesmo contente
a vender banha da cobra.
Pois então que viva a chacha,
mas òs’pois ninguém se queixe,
que s’o caso ‘stiver feio,
não se vai lá com paleio
– pela boca morre o peixe.

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Imagens:
Em cima: P. S. Krøyer: Fogueira de S. João na praia de Skagen (Sankt Hansblus på Skagen strand), 1906. Skagens Museum.
Em baixo: A. Roque Gameiro: A fogueira do santo (?), s. d., de uma coleção de fascículos, Portugal de algum dia, 1931 (?, ver aqui)
(A página "Marchas Populares de Lisboa", do blogue Histórias com História tem bonitas ilustrações de Stuart Carvalhais, Roque Gameiro e  Almada Negreiros, entre outros, relativas aos Santos Populares, )

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