Henri Cartier-Bresson (1908-2004) Rue Mouffetard, 1954. Ponho uma versão pequena da foto, para fins didáticos, digamos assim, porque a fotografia não é do domínio público, mas podem vê-la com maior definição por exemplo neste site de leilões. |
É curioso. Quando se fixa a duas dimensões um pedaço de realidade, há representações imediatas (no sentido original de «sem mediação») da perspetiva com que lidamos mal, ao passo que aceitamos sem problema perspetivas que não correspondem a nada no mundo real. Os ilustradores sabem isto – banem conscientemente certas perspetivas reais e usam outras que parecem bem, mas são irreais.
Notem que não se pode inferir daqui nenhuma desadequação geral dos sentidos à realidade, mas apenas uma esporádica desadequação dos sentidos à representação bidimensional. Mesmo que seja em fotografia. A fotografia de Henri Cartier-Bresson de que aqui falo é estranha. É claro, o realismo inerente à fotografia faz-nos aceitar como real a perspetiva que nos apresenta, ao contrário do que acontece com o desenho nela baseado – mas não deixa de ser estranha... Se estivéssemos onde ela foi tirada e víssemos a cena precisamente daquele ângulo mas a três dimensões, já nada nos pareceria estranho, não é verdade?
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