«Na nossa profissão», disse-me uma vez uma enfermeira, quando comecei a trabalhar no setor da saúde, «aprende-se a encarar a morte como uma coisa natural, que é uma coisa que a maior parte das pessoas não faz, não consegue fazer. Mas corremos também o risco de nos tornar cínicos, de deixar de dar à morte a importância que tem, de chegar a galhofar com ela; e não se deve… Não se deve.»
Tentemos ter sempre presente: a morte é o acontecimento mais importante da vida de uma pessoa.
Tanatopraxia é uma palavra demasiado pomposa, que tenho dificuldade em relacionar com o trabalho simples que eu conheço: talvez pôr uma fralda, talvez retirar uma algália, lavar o corpo, talvez barbear, pentear, vestir o corpo, talvez calçá-lo. Em dinamarquês, diz-se «gøre i stand» e nunca aprendi como se diz em português normal — ou em português de enfermagem — porque esse trabalho nunca fez parte da minha vida em Portugal. «Gøre i stand» traduz-se, em quase todos os contextos, por «arranjar» ou «preparar». É só isso.
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Tem-se pena das pessoas que padecem e mais ainda se se lhes acompanha de perto o sofrimento; e deixa-se de ter pena delas quando o termina o penar. Ouvi uma colega dizer de uma recém-falecida: «Estava mais bonita. Nunca lhe tido conhecido aquela expressão de sossego.»
Mikhail Aleksandrovich Vrubel: Tamara no caixão, 1891 (excerto) |
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