Uma questão ortográfica muito debatida é a da grafia dos vários porque/por que (e respectivas variantes porquê/por quê, quando possíveis). Não vou tratar extensivamente a questão (para um bom resumo da problemática e indicação das propostas ortográficas maioritárias em Portugal e no Brasil, ver um texto de Cláudia Pinto), mas apenas comentar o aspecto mais polémico da questão, o da grafia do porque/por que em frases do tipo “porque/por que fizeste isso?”
O que é especial nesta questão de porque vs por que em frases interrogativas directas é que não há consenso entre especialistas da gramática normativa, de maneira que não resta a cada um senão escolher a ortografia que mais lhe agrada. O que se pode e deve saber é que no Brasil é habitual escrever por que em duas palavras, ao passo que o mais comum em Portugal é escrever porque numa palavra – se bem que haja, tanto no Brasil como em Portugal, gramáticos que discordem da “norma” dos seus países.
Como diz Cláudia Pinto e muito bem, «a ortografia é um conjunto de regras convencionadas, e, como tal, artificiais». As normas ortográficas reflectem umas vezes melhor e outras vezes pior os factos linguísticos, e, neste caso, a norma ortográfica brasileira reflecte melhor do que a norma portuguesa os factos linguísticos – na minha opinião... Pelo menos, não consigo vislumbrar nenhuma razão propriamente linguística para escrever porque numa palavra só, na situação referida. [Aliás, em última análise, não há nenhuma razão propriamente linguística para escrever porque numa palavra só em situação nenhuma, mas não quero entrar agora nessa discussão...] Se se admitir, como faz a norma brasileira, que porque não é, no fundo, senão por que (a preposição por mais o interrogativo (o) que), por que faz parte do mesmo paradigma que para que, com que, etc.: Por que fizeste isso? Para que fizeste isso? Com que fizeste isso? De que fizeste isso? É isto que eu acho que porque/por que é de facto, e por isso é que eu digo que, na minha opinião, a “norma” brasileira reflecte melhor os factos linguísticos.
Agora, como os factos linguísticos importam pouco quando se discute ortografia, deixemos de lado a questão da motivação linguística e sejamos mais práticos: há alguma vantagem em escrever de uma ou de outra maneira? Há um argumento lógico a favor da opção porque: permite distinguir, na escrita (na oralidade, há outras maneiras de o fazer), frases interrogativas do tipo «Por que esperas?» (=De que estás à espera?) de outras do tipo «Porque esperas?» (=Que motivo tens para esperar?), se bem que este problema se coloque muito poucas vezes na prática. A favor da opção por que, há o argumento da facilidade: é menos confuso para muita gente pensar que é sempre por que, menos quanto se trate de conjunção causal (ou do nome porquê).
Insisto então: num caso destes, a escolha é de cada um. Se alguém vos perguntar (por escrito) “porque escreves tu porque em duas palavras?”, podem sempre responder (por escrito): “E por que escreves tu por que numa só?” Ou vice-versa, claro está…
Coreto de Évora
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Évora, Novembro de 2024
O Coreto de Évora está localizado no Jardim Público da cidade.
"Évora foi uma das primeiras cidades portuguesas a ter bandas fila...
Há 4 horas
1 comentário:
Interessante o texto. Na Língua Brasileira os porquês são empregados assim:
Por que
O por que tem dois empregos diferenciados:
Quando é a junção da preposição por + pronome interrogativo ou indefinido que tem o significado de “por qual razão” ou “por qual motivo”:
Exemplo: Por que você não vai ao cinema?
Não sei por que não quero ir.
Quando é a junção da preposição por + pronome relativo que tem o significado de “pelo qual” e poderá ter as flexões: pela qual, pelos quais, pelas quais.
Exemplo: Sei bem por que motivo permaneci neste lugar.
Por quê
Quando vier antes de um ponto, seja final, interrogativo, exclamação, o porquê deverá vir acentuado e continuará com o significado de “por qual motivo”, “por qual razão”.
Exemplos: Vocês não comeram tudo? Por quê?
Andar cinco quilômetros, por quê? Vamos de carro.
Porque
É conjunção causal ou explicativa, com valor aproximado de “pois”, “uma vez que”, “para que”.
Exemplos: Não fui ao cinema porque tenho que estudar para a prova.
Não vá fazer intrigas porque prejudicará você mesmo.
Porquê
É substantivo e tem significado de “o motivo”, “a razão”. Vem acompanhado de artigo, pronome, adjetivo ou numeral.
Exemplo: O porquê de não estar conversando é porque quero estar concentrada.
Diga-me um porquê para não fazer o que devo.
Por Sabrina Vilarinho
Graduada em Letras
Equipe Brasil Escola
http://www.brasilescola.com/gramatica/por-que.htm
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