Começa a ser raro não se encontrar rapidamente na Internet aquilo que se procura. Mas ainda há (mal feito fora, também…) perguntas para as quais só mesmo encomendando uma ou várias obras impressas é que a gente consegue (talvez…) obter resposta. Por exemplo, como é que Rimbaud, em 1888, algures na Etiópia, reagiu a uma carta que lhe contava que, após a publicação de Illuminations dois anos antes, se tinha tornado célebre nos meios literários de Paris?
Também é verdade que é uma pergunta de interesse mínimo, pelo menos se se medir o seu interesse pelo número de pessoas a quem ela possa interessar. E a mim, porque é que me havia de interessar uma pergunta assim? Bom, há já muito tempo, li um artigo de um jornal conhecido* em que se falava de “profissionais e artistas de destaque” que “se retiram em plena glória”. O artigo não refere só o abandono definitivo, mas fala também de casos em que há interrupções longas do trabalho criativo ou fugas temporárias às luzes da ribalta. Porque será que tudo isso acontece? Depois de dar uma série de exemplos de gente famosa que decide retirar-se do trabalho que lhe traz a fama, o artigo sugere, entre outras coisas, que “lidar mal com um êxito pode paralisar a criatividade”.
O artigo suscitou-me uma dúvida. Dizia que Arthur Rimbaud, “depois de conseguir um êxito brutal”, teria procurado permanecer tão afastado da fama quanto possível. Isto era um bocado contrário à ideia (muito vaga, muito vaga…) que eu tinha da vida de Rimbaud, e fui procurar informação. Foi assim que descobri que, apesar de Rimbaud ser uma dos poetas mais influentes de sempre, é difícil arranjar online informação detalhada sobre a sua vida.
O que podemos verificar com alguma facilidade é que, ao contrário do que afirmava o tal artigo (a minha vaga impressão estava correcta!...), a fama não tem nada a ver com o afastamento de Rimbaud da literatura – sobretudo porque ele se afastou da literatura antes de ser famoso… É certo que Rimbaud se tornou famoso ainda em vida (ou começou a tornar-se famoso ainda em vida), mas essa fama começou só com a publicação de Illuminations em 1886, mais de dez anos depois de ele ter deixado de escrever poesia; e enquanto vivia longe de França, pelo que nunca passou de facto pela experiência de ser uma figura pública… Também é certo que Rimbaud chegou a saber, pelo menos através de uma carta do seu amigo Paul Bourde**, do sucesso que estava a ter a sua poesia, e podemos então dizer, quando muito, que a consciência do seu sucesso não foi suficiente para o fazer voltar à poesia – nem sequer para o fazer voltar a França para gozar esse sucesso.
Outra coisa que uma pesquisa sobre a vida de Rimbaud nos ensina é que há, entre os seus estudiosos, quem defenda que a falta de dinheiro (ou a vontade de o ganhar, seja…) foi uma das razões que o levou a correr mundo; e que, na sua correspondência, o dinheiro é um dos temas principais. E então, se acharmos, como eu acho, que é o dinheiro, precisamente, que faz andar o mundo em geral e cada uma das vidas particulares dos seus habitantes, podemos até perguntar-nos se Rimbaud não teria continuado a escrever, se lhe tivesse vindo mais cedo da escrita a compensação económica que acompanha o êxito! Mas isto sou eu a especular…
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* Desta vez, é de propósito que omito a referência, não vão pensar que a intenção deste texto é corrigir o artigo de jornal. Nada disso: a intenção deste texto é antes, como o título indica, especular, sem mais, sobre «como teria sido, se…» (chamando também a atenção para a importância, tantas vezes desprezada pelos estudiosos, do dinheiro na produção artística….)
** Ao que consegui perceber, mas não posso ter a certeza absoluta. A informação que consegui arranjar de dois biógrafos de língua inglesa refere o autor dessa carta como “his editor”.
Coreto de Évora
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