Há quem diga que o coelho se corta sempre em oito partes. Eu digo que o cortem em quantas partes quiserem, mas cortem-no, que não dá jeito nenhum fazer esta receita com um coelho inteiro.
Depois, envolvam os bocados do coelho em muita mostarda. Tem de ser mostarda a sério, escusado será dizer (por exemplo, esta ou esta), e não tenham medo de pôr mesmo muita. Não há problema, o sabor forte da mostarda desaparece com a cozedura. Em seguida, dourem os bocados de coelho em azeite bem quente. Parece que isso de selar a carne é um mito, como os há muitos em culinária, mas também agora não interessa.
Tirem o coelho do tacho e, na gordura que ficou, refoguem cebola, alho francês e cenoura – tudo picado, naturalmente, mas não tem de ser muito fininho. Quando estiver tudo bem douradinho, ponham lá outra vez o coelho, e reguem com vinho branco. Em desaparecendo o cheiro a vinho, juntem-lhe o caldo de carne – só o suficiente para cobrir o coelho.
Há coelhos que cozem mais depressa que outros e há quem goste do coelho mais ou menos cozido. Mas enfim, quando o coelho estiver como vocês o querem, deitem-lhe um bocadinho de nata, para suavizar o molho. E pronto. Também não vale a pena dizer que, conforme o molho esteja mais ou menos espesso e vocês o queiram mais ou menos espesso, podem ter de o ligar no fim – ou não.
O acompanhamento é à vossa vontade. Qualquer coisa que não tenha um sabor muito marcado (tagliatelle ou fettuccine, batata cozida, arroz branco, uma coisa assim), para não se perder o sabor do molhinho. Bom proveito!
Attribution-NonCommercial-ShareAlike 2.0 Generic (CC BY-NC-SA 2.0)
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Agora, se a espécie coelho é originária da Ibéria, de parte de França e da parte ocidental do Norte de África, há várias raças desenvolvidas noutros lados. Por exemplo, na Bélgica foi criado um coelho gigante (há outros) chamado gigante-da-flandres, que pode ultrapassar os dez quilos de peso. Criado originalmente para carne e pele, como os coelhos de outras raças, este coelho é hoje sobretudo animal de estimação.
Pormenor de O Jardim das delícias (entre 1480 e 1505) de Hieronymus Bosch,
Museu do Prado, Madrid, daqui.
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Seja como for, uma imagem menos inocente do coelho parece ter sobrevivido a essas drolleries medievais – se não como ser diabólico, pelo menos como ser endiabrado. O Coelho Branco do País das Maravilhas e Bugs “Pernalonga” Bunny, entre outros, são disso exemplos óbvios.
Desenho de Tofu Verde, daqui.
Attribution-NonCommercial-ShareAlike 2.0 Generic (CC BY-NC-SA 2.0)
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