1. Na minha opinião, há dois subgéneros artísticos (ou temáticas artísticas, talvez seja mais correcto dizer assim) de que resultam invariavelmente obras desinteressantes, mesmo quando são feitas por grandes artistas: o erotismo e a chamada arte religiosa. Quando muito, para usar uma distinção desusada e criticada (mas que eu continuo a achar produtiva), algumas dessas obras podem ter algum interesse técnico, puramente formal, mas que têm de conteúdo? É claro, o bom senso diz-me que este “invariavelmente” que usei no primeiro período não pode ser senão abusivo, mas o facto é que nunca encontrei obras eróticas nem obras religiosas que me enchessem as medidas, como se costuma dizer. O meu mal deve ser a ignorância, com certeza, ou um preconceito que me cega. Por isso, peço ajuda. Podia dizer que lançava um desafio, mas digo antes que peço ajuda, fica-me melhor assim: Indiquem-me lá, se conhecerem, uma obra de arte cujo conteúdo seja sobretudo ou exclusivamente a expressão da excitação sexual ou da devoção religiosa ou o apelo à excitação sexual ou à devoção religiosa que considerem de grande valor artístico. Ah, atenção, a música não vale, porque, como a música por si não diz nada, o que pode ser erótico ou religioso nas obras musicais são as palavras cantadas (que analisaremos separadamente da música, sim?) ou o programa que o autor definiu para essas obras, e nunca a música propriamente dita.
2. Costuma considerar-se a Bíblia uma das grandes obras (ou compilação de obras, para ser mais rigoroso) da cultura mundial, mas a verdade é que a Bíblia é, do ponto de vista literário, filosófico e histórico, uma colecção de textos quase sempre bastante pobres. As histórias são, na maior parte dos casos, muito singelas de imaginação e de moral, mas, mesmo as mais interessantes, são sempre contadas com um estilo sem interesse nenhum… Se aqueles textos foram inspirados por Deus, então é pena que não tenham sido antes inspirados por, sei lá, Charles Dickens ou Camilo Castelo Branco…
Agora, provavelmente porque o estilo da maioria dos textos da Bíblia é tão insípido, precisamente, há muitas variações sobre histórias da Bíblia que nos parecem mais interessantes do que as histórias originais, mas a questão interessante é que não têm vida própria: só podemos ter essa opinião sobre elas porque conhecemos as histórias originais e as referimos a essas originais. Vejam o exemplo do bonito vídeo de animação abaixo: que graça lhe achará quem não conhecer a história de Adão e Eva? O que dá força às histórias da Bíblia é, na maior parte dos casos, o serem conhecidas de todos, o de serem efectivamente património comum.
3. Um aparte final e suficientemente polémico para merecer comentários enraivecidos: A fortuna – e o real vigor, nalguns casos, mais do que apenas a fortuna – de anedotas, contos populares e histórias da Bíblia prova, mais uma vez, que escrever longas narrativas é “desvario laborioso e empobrecedor”, como dizia Jorge Luis Borges. Se se partir do princípio que o mais conta numa obra literária são as ideias e as imagens que dela ficam para a posteridade, o romance Moby Dick, por exemplo (por exemplo…), não teria perdido nada, tenho a certeza, se tivesse sido reduzido ao formato de conto (e eu gosto muito da escrita de Melville, quero esclarecer). Se se considerar antes que o que mais conta de uma obra é o prazer que a sua leitura dá a cada um dos leitores, então já é diferente e não vale a pena dizer mais nada sobre o assunto…
recado para os Dominique Pelicot que andam por aí à solta
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Na semana em que Dominique Pelicot foi condenado a 20 anos de prisão por
ter repetidamente drogado a sua mulher para a violar e a pôr à disposição
de outro...
Há 2 dias
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