Vou para ouvir um disco de Laurindo Almeida com o Modern Jazz Quartet e reparo nos temas: “Samba de uma nota só”… “Concierto de Aranjuez”… Hmmm… O disco é de 1964 e, se eu o ouvisse nessa altura, ouvi-lo-ia provavelmente com outros ouvidos, mas agora, estou desgraçado!, nunca me será possível ouvir a música sem os preconceitos que tenho sobre estes temas. A minha audição do disco está viciada à partida...
Se fosse budistamente optimista, diria que, treinando-me para parar o meu diálogo interno, poderia chegar a ouvir a música como ela é (o ideal do budismo é um ideal de objectivismo radical, como o de Alberto Caeiro…), sem o filtro da minha limitadora mente. A pergunta que me surge de imediato – e a que parece que nenhum filósofo budista soube ainda responder – é a seguinte: QUEM ouviria essa música, se eu tivesse conseguido dar cabo da armadilha do meu Eu, hem?
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