Era uma bonita chávena, com uma gaivota e o nome Bodil pintados à mão. Bodil não é um nome incomum, mas também não é um nome muito normal: há presentemente 11.444 Bodils na Dinamarca; e, no ano passado, só cinco meninas foram batizadas com esse nome. Karen pôs-se a especular sobre a dona da chávena: o mais provável era ser uma mulher com mais de 50 anos e de classe média alta, pensava ela.
Tirou uma foto à chávena e pô-la no Facebook, com o seguinte texto:
Quem conhece a Bodil? Uma lindíssima chávena pintada à mão encontrada na água perto da ponte para Siø, do lado de Tåsinge. Conheces a Bodil? Creio que há de ficar contente se recuperar a sua chávena.
É inacreditável o que um post destes pode desencadear nas redes sociais. As pessoas bem podiam estar apenas caladas, quando não são os destinatários do post. Mas não. Fazem comentários e mais comentários, cada um menos a propósito que o outro. E o post foi muito partilhado.
Além dos muitos comentários, Karen recebeu três mensagens de Bodils que reclamavam a chávena. Quando insistiu, porém, que queria saber como a chávena tinha ido parar à praia onde a achou, todas elas acabaram por confessar que a chávena não era delas.
Karen descobriu, entretanto, quem tinha feito a chávena: uma ceramista chamada Ulla. Escreveu-lhe a perguntar se sabia a quem tinha vendido aquela chávena, mas Ulla nunca lhe respondeu.
Além dos muitos comentários, Karen recebeu três mensagens de Bodils que reclamavam a chávena. Quando insistiu, porém, que queria saber como a chávena tinha ido parar à praia onde a achou, todas elas acabaram por confessar que a chávena não era delas.
Karen descobriu, entretanto, quem tinha feito a chávena: uma ceramista chamada Ulla. Escreveu-lhe a perguntar se sabia a quem tinha vendido aquela chávena, mas Ulla nunca lhe respondeu.
Finalmente, ao fim de duas semanas, alguém escreveu a Karen, dizendo que se chamava Bodil e sabia quem tinha feito e vendido a chávena. Chamemos a esta pessoa Bodil A, para facilitar a narrativa e chamemos Bodil X à pessoa que Karen procura. Karen respondeu-lhe que também tinha descoberto Ulla e lhe tinha escrito, mas que ainda não recebera resposta. Bodil A respondeu-lhe então que a ceramista era sua amiga e ia falar com ela pessoalmente.
Dois dias depois, Bodil A escreveu de novo a Karen: tinha falado com Ulla, Ulla sabia muito bem a quem vendera a chávena e contactou Bodil X. E Bodil X disse-lhe que não queria reaver a chávena. A chávena, explicou ela, estava ligada a uma história que lhe tinha feito muito mal e que preferia esquecer. Não tinha sido ela a perder ou a deitar fora a chávena na praia. Mas ela sabia, claro, quem tinha sido. Não queria, enfim, ouvir mais falar da chávena.
Karen perguntou então a Bodil A se não queria ficar com a chávena. Bodil A disse-lhe que tinha inicialmente pensado nisso, mas que, depois de saber da história de Bodil X, e mesmo sem saber ao certo o que se tinha passado, não, não queria uma chávena assim.
No mesmo dia, Karen recebeu uma mensagem de outra Bodil: «Tinha uma chávena assim, quando trabalhava no dentista em Østergade. Deixei-a lá ficar quando me vim embora. Como é que pode ter ido parar a uma praia em Tåsinge?»
Karen não lhe escreveu mais e ela também nunca disse mais nada. Há quatro dentistas na Dinamarca com consultório numa rua chamada Østergade: em Aarhus, Assens, Hjørring e Silkeborg.
«Só depois de o meu post ter sido partilhado dezenas de vezes é que me dei conta de que era bem possível que a chávena não tivesse sido perdida na praia», diz-me Karen. «Pus-me a imaginar o que podia ter-se passado. Até pensei que a Bodil podia ter morrido e alguém que costumava tomar café com ela podia ter ali posto a chávena naquele montinho de pedras, assim como um memorial. Havia tantas razões possíveis para aquela estátua ali estar, mas eu, ao princípio, só pensei que uma Bodil a tinha perdido.»