Permitam-me repisar: correto é um termo de aprovação e politicamente correto é, por isso, aquilo que cada indivíduo ou cada comunidade na sua maioria considera politicamente correto, de acordo com os seus princípios políticos (isto é, os princípios éticos que a devem reger). É uma categoria forçosamente variável, de pessoa para pessoa, de sociedade para sociedade, de uns tempos para os outros. Todas as leituras «referenciais» da expressão, ou seja, referindo um pretenso corpus definido e invariável de princípios e regras, revela apenas uma incompreensão ou — mais provavelmente! — uma posição ideológica.
Em 1786, escrevia Joseph Townsend no seu tratado A Dissertation on the Poor Laws, by a Well-wisher to Mankind («Dissertação sobre as Leis dos Pobres, por alguém que quer bem à Humanidade», traduzo eu): Os pobres sabem pouco dos motivos que levam as classes mais altas à ação: orgulho, honra e ambição. Em geral, só a fome pode estimulá-los e incitá-los a trabalhar; as nossas leis, porém, dizem que eles nunca deverão passar fome. As leis, há que o admitir, também dizem que eles estão obrigados a trabalhar. Mas a obrigatoriedade legal traz sempre muitos problemas, violência e barulho; cria má vontade e não pode nunca produzir um serviço bom e aceitável; ao passo que a fome não só é uma pressão pacífica, silenciosa e incessante, como também, sendo o motivo mais natural para a indústria e o trabalho, suscita os maiores esforços; e, quando satisfeita com a generosidade de outrem, cria uma base duradoura e segura para a boa vontade e a gratidão.
Não tenho razão nenhuma para acreditar que isto não era politicamente correto na época — pelo menos para uma grande parte das pessoas que sabiam ler o panfleto. Ainda bem que hoje já não o seria para a grande maioria (embora haja com certeza ainda quem pense assim).