07/12/22

Conforto térmico [Crónicas de Svenddborg #45]

 

Juha Uitto: Snow heels, 13.2.14 Creative Commons, daqui

Verão é uma palavra quente e inverno uma palavra fria. Pode parecer uma efusão lírica moderna, daquelas em que se dá uma materialidade inflada à palavra «palavra»; mas não é, é apenas uma constatação simples: se, na frase anterior, entendermos palavra como embrulho de um conceito, parece que basta saber-se que é verão para se ter calor e saber-se que é inverno para se ter frio.

Diz-se que mau tempo não existe, só há roupa inapropriada. É certo, mas isso não significa que é só para o mau tempo que se deve ter roupa apropriada. E há muito quem se vista conforme a data e não conforme o tempo; quem, independentemente da temperatura que faça, ande de manga curta e calções no verão e durma de meias e roupão por cima do pijama no inverno.

Ora o verão é, aqui na Dinamarca, a estação em que há mais possibilidade de passar frio, porque as noites podem ser fresquinhas e estão amiúde desligados os aquecimentos; já que, no inverno, as casas têm sempre uma temperatura entre os 20 ºC e os 25 ºC. Por isso é que eu digo que o ideal para mim era poder passar o verão em Portugal e o inverno da Dinamarca. Mas acho que, aqui, são só as pessoas mais idosas que, por estes tempos, se agasalham dentro de casa. Deve ser algo atávico, digamos assim, que ficou do tempo em que o conforto térmico na Dinamarca era muito menor do que é agora e no inverno se passava tanto frio como em Portugal — ou mais…

Este ano, cheio de boas intenções (ok, e um bocadinho impressionados com os novos preços da energia…) decidimos que podíamos ter a casa só a 19 ºC. Mas era uma promessa de bêbedo, como se costuma dizer — ninguém quer passar um inverno assim.

Tomer Hanuka, capa de The New Yorker, 10.2.2014, pormenor



 




2 comentários:

jj.amarante disse...

A minha casa nos Olivais Sul em Lisboa foi bem construída, as paredes exteriores são duplas com caixa de ar, os quartos têm roupeiro embutido na parede ao lado do qual existe uma mini-varanda de 1 metro de largura por 80cm de profundidade. Forrámos o roupeiro com placas de cortiça de 5mm de espessura. O roupeiro fica mais frio que o quarto no inverno e mais quente que o mesmo no verão.
O estore fecha do lado de fora da varanda sendo fácil bloquear o sol no verão baixando o estore quando ele está baixo ou aproveitando o facto da janela estar recuada em relação à fachada bloqueando o sol quando ele vai alto. No inverno o sol vai baixo e entra a jorros pelas janelas quando o céu está descoberto, tendo contudo maior altura e calor do que o sol dinamarquês. A orientação da casa é Norte-Sul, o que seria malvisto no Porto onde se presta mais atenção a estas coisas, preferindo a orientação Nascente-Poente. Por isso a sala virada a Norte, embora apanhe algum calor vindo dos quartos, tem dois convectores na parede de 1,1KW cada que ligam/desligam à ordem dum termostato. Fui ver o termómetro agora e marcava 18,5ºC.
Deveria ter instalado uma bomba de calor mas os convectores são completamente silenciosos.
Em 2015 instalei janelas duplas na fachada sul. Na sala tinha instalado janela dupla há mais tempo. No quarto, quando fechei a janela de vidro duplo pela primeira vez parecia que o mundo exterior tinha parado, não vinha de lá nenhum ruído.
Agora que passo muito tempo em casa constato que vou mudadndo de roupa ao longo do dia. Nesta altura, de manhã e até meio da tarde uso camisolas de lã merino finas, depois do chá passo para Lambswool ou umas camisolas de caxemira (da UNIQLO que este ano não comprei por terem aumentado imenso o preço). Tenho também umas mantas muito leves e quentes da Índia que compro a uma uruguaia com tendências hippies com uma loja na Praia da Rocha e no inverno costumo adormecer num sofá aconchegado numa manta dessas enquanto vejo os primeiros minutos de um programa na TV.
Quando estive em Copenhaga 15 dias no inverno de 1979 costumava abrir a janela do quarto à noite pois estava um calor insuportável. Desde essa altura tenho constatado que as temperaturas nos quartos dos hotéis na Europa do norte têm vindo a descer para níveis mais razoáveis.

V. M. Lucas Lindegaard disse...

Caro José Júlio, muito obrigado pelo comentário. Vejo que tem a temperatura interior da sua casa controlada e ao nível que prefere e toda a gente devia fazer o mesmo. Sinceramente, 18,5% é um pouco baixo para o meu gosto, mas está perfeitamente dentro do intervalo aconselhado pela OMS para adultos saudáveis (18 ºC-24 ºC), em condições normais de humidade, e também do aconselhado pelas autoridades dinamarquesas em relação à saúde não das pessoas mas dos edifícios (e este ano, por causa da poupança de energia, passou a ser 18 ºC a temperatura oficial para edifícios públicos, mas desconfio, a julgar pelo meu trabalho, que a puxam um bocadinho 😊 ). Já para bebés, pessoas de idade avançada e pessoas com doenças cardiorrespiratórias ou outras doenças crónicas, a OMS aconselha um mínimo de 20 ºC. https://apps.who.int/iris/handle/10665/62723. Há evidência de que temperaturas de 16 ºC e menos com níveis de humidade acima dos 65% provocam vários problemas de saúde, incluindo alergias. Enfim, o Homo sapiens é um animal tropical e a pequena percentagem de genes que recebemos de outras espécies do nosso género parece não ter chegado para modificar o nosso tropicalismo 😊. Infelizmente, na maioria dos lares portugueses, a temperatura ambiente no inverno é abaixo das recomendações da OMS, devido a má construção e falta de hábitos de aquecimento — e dinheiro e estruturas para ele. É uma coisa de que vários jornais falaram nos últimos anos (ver https://bit.ly/3UZyq5C e https://bit.ly/3Ys3Q7n, por exemplo) e duvido que as condições de conforto térmico se tenham alterado substancialmente desde essas notícias.

Quanto ao ruído da bomba de calor, é mesmo mínimo, nada que perturbe. Instalámos uma há uns meses e não a ouvimos. Há que estar perto dela (fora de casa) quando ela trabalha com toda a força para a ouvir claramente, senão não a ouvimos, mesmo quando estamos no quintal.