16/10/25

Weblog: 15 de outubro de 2025 [Crónicas de Svendborg #53]

[Dizem-me várias definições de blogue que, no início, os weblogs, eram sobretudo diários online.  Este blogue, que já nasceu tarde, raramente o tem sido. Mas hoje é. Mais ou menos…]

E eis-nos no fim da primeira quinzena de Outubro. O frio ainda não chegou, mas de manhã, às vezes, já calço luvas quando vou de bicicleta para o trabalho. Já está escuro de manhã quando saio de casa às seis e meia, mas ainda é de dia quando a Karen chega a casa às cinco. Para ser mais concreto, o sol nasceu hoje às 7:48 e vai pôr-se às 18.17 e temos hoje 14 graus de máxima e 11 de mínima.

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As folhas começam a cair e caem das árvores as últimas maçãs. A horta já pouco ou nada mais dará este ano. Ainda não há perigo de temperaturas negativas, mas vamos apanhando batatas, cenouras, cebolas, alhos e beterrabas, para os guardar na oficina ou na despensa, que são as partes da casa que não aquecemos. Os tupinambos e as beterrabas ainda podem esperar mais um bocadinho. As acelgas, deixamo-las ficar e vamos só tirando as folhas de que vamos precisando, que nunca se cansam de fazer folhas novas, às vezes pelo inverno dentro.




Foto: A horta, ou o que resta dela nesta altura. A cerca de arame, que talvez estranhem, é por causa de corços e gamos, que comem tudo.

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Apanhámos há duas semanas 280 quilos de maçãs, que fomos levar à fábrica de sumo. O modelo de negócio da fábrica é um litro de sumo, já pasteurizado, por cada 10 quilos de maçãs. É claro, não é sumo das nossas maçãs que nos dão, é sumo de maçãs que foram entregues no dia anterior. Mas só aceitam maçãs como as nossas, de amadores que não utilizam pesticidas. É bom negócio para a fábrica, mas não para nós: se contarmos o preço do nosso trabalho, saem-nos muito mais caros estes 28 litros de sumo na fábrica do que comprá-los na loja, as umas 15 coroas (± 2 €) por litro. Mas é só para não se estragar tanta maçã.




Fotos: O ano passado, fiz uma poda bastante radical de algumas macieiras, a ver se lhes reduzia a produção, mas continuam a produzir muito. Foi difícil meter 280 quilos de maçãs no carro (houve anos em que tivemos de usar um atrelado), mas conseguimos. À volta, já havia muito espaço livre.

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Agora, mesmo apanhando 280 quilos de maçã, estraga-se sempre muito mais que isso. Começam as maçãs a cair para o chão em julho e só agora, em outubro, caem as últimas. Enquanto não arranjamos tempo para as apanhar e levar à fábrica, como fizemos agora, vão parar várias centenas de quilos ao monte de composto no fundo do quintal. Depois de apanharmos todas as maçãs que conseguíamos apanhar, continuaram a cair as das árvores altas, que já não eram podadas com certeza há muito tempo quando comprámos a casa e que, agora, não há maneira de podar. No fim de semana passado, apanhei e pus no composto, destas maçãs, mais umas centenas de quilos. Agora já poucas mais hão de cair.  
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É claro, nós fazemos tudo e mais alguma coisa com maçãs, compotas e doces vários, e fartamo-nos de comer maçãs na época delas, mas não damos vazão nem de um décimo. E nem sequer faz muito sentido convidar os vizinhos a virem-se servir das nossas maçãs — toda a gente aqui na terra tem maçãs e alguns têm o mesmo problema de excesso de produção que nós temos.




Foto: Maçã caramelizada no forno a baixa temperatura com açúcar mascavado e canela. Com um bocadinho crème fraîche por cima, dão uma deliciosa sobremesa.

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Na horta, temos feito todos os anos acelgas, batatas, curgetes, fava, feijão-catarino e morangos (muito poucos), mas o resto vai variando de ano para ano. Nos últimos anos, temos também tido sempre beterrabas, espargos, framboesas e uvas. Este ano, tivemos também alho, beterraba, cebola, cenoura, chicória italiana (radicchio) e feijão-branco. Fora da horta, tivemos tomate, pepino e piripiri, na estufa; e há também groselhas pretas, vermelhas e verdes, e amoras, espalhadas pelo quintal. E tivemos pela primeira vez muitos figos e muitas rainhas-cláudias, muito bons tanto aqueles como estas.

Foto: Uma sopa feita só com produtos na nossa horta, tirando, claro, o sal e o azeite: cozi primeiro o feijão-branco fresco, porque não sabia quanto tempo ia demorar a cozer e não o queria muito espapaçado. Noutro tacho refoguei cebola, alho, cenoura, um jalapeño não muito forte e os talos das acelgas, tudo em cubos pequenos, e juntei-lhe depois um bocadinho de tomate. Cozi as acelgas à parte, em água muito salgada, só durante dois minutos e passei depois por água fria. Juntei ao refogado o feijão e a água onde o tinha cozido, e batatas cortadas em cubos grandes. Deixei cozer um bocadinho e juntei curgete cortada em juliana grande. Deixei cozer mais um bocadinho e juntei as acelgas.

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Foto: Uma bonita (e saborosa salada) salada que a Karen fez, com flores comestíveis que eu não sei como se chamam. A couve-roxa não é do quintal, mas a beterraba e as flores são. Temos muita beterraba, mais do que conseguimos comer, e eu tento arranjar maneiras de a preparar (borche, assada no forno com molho de tahini e limão, seca no forno em tiras muito fininhas, sei lá que mais...), mas também não se pode comer beterraba todos os dias, não é verdade?
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Foto: Feijão-catarino e feijão-branco e secar. As nozes por baixo do feijão-branco também estão a secar, mas não são do nosso quintal. Comprei-as frescas aqui na aldeia.

Eis-nos então no fim da primeira quinzena de outubro. Até agora, tem sido um outono suave. A próxima tarefa no quintal é podar as macieiras.