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1. Soalho de pinho branco: sobre a etimologia de algumas expressões popularesDecidimos que paredes e portas haviam de ser brancas e que o soalho havia de ser o mais claro possível.
As paredes é o mais fácil, sempre a rolar. Mas nas portas não dá para usar rolo nas almofadas. Têm de ser pintadas à mão, a trincha e pincel, e há partes que há que pintar e voltar a pintar e ficar a observar com cuidado, não vá a tinta escorrer. Grande pincel!
Quanto ao chão, depois de afagado, dei-lhe um tratamento que impede que o uso e o tempo o escureçam. Mas são uns bons 80 metros quadrados no total e aquilo tem de ser aplicado à mão, com uma trincha graúda. Vi-me à brocha.
Em seguida, tem de se passar com uma espécie de lixa de plástico, para alisar a madeira, antes de a lavar três vezes com um sabão especial. “Pode alugar-se uma máquina para esse trabalho”, explicou-me alguém. «Que se lixe…», pensei eu, não há de ser assim tão difícil de fazer à mão. Mas era. Fazer faz-se, enfim, mas é trabalho lixado, digo-vos eu.
O sabão líquido não pinta propriamente a madeira, mas tem algum pigmento incorporado, dá um tom esbranquiçado ao chão. Uma grande trabalheira, em suma, mas fica com pinta.
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2. Há alguma coisa tão bonita como o verão dinamarquês?Entre os decisores celestes, há pelos vistos quem leve demasiado a sério a expressão “regime de chuvas de verão”… Também não era preciso começar a chover logo a seguir ao solstício…
Quem, no Sul, louva o uso nórdico da bicicleta (que é, diga-se de passagem, efetivamente louvável) não deve esquecer-se que, em metade dos dias do ano, é à chuva que se vai de bicicleta para a escola e para o trabalho.
“A roupa para a chuva anda sempre, sempre connosco na mochila, esteja a chover ou a fazer sol”, explica a minha mulher à minha filha, que deixou na escola o casaco e as calças impermeáveis de vestir por cima da roupa quando chove. A Joaninha já não se lembrava de que não há tempo sem chuva nesta terra e que uns quantos dias de sol não significam que agora é que começou finalmente o bom tempo.
[E se fosse como a chuva de verão nos trópicos, onde o calor nos enxuga logo a roupa e a alma, mas aqui o calor é um bem raro, mesmo no verão…]
Henry Nielsen & Ib Schønberg, “Hvad er så skønt som den danske sommer?”, do filme Ved kongelunden, 1953
Há alguma coisa tão bonita como o verão dinamarquês,/ numa vala do caminho, quando o céu está azul?/ Está-se aqui tão bem como duas gemas de ovos / num leito de espinafres. Pois é, e isso merece um brinde. / O que é preciso, quando uma pessoa tem a garganta cheia de pó, / é uma bejeca e um fosso coberto de trevo. / Há alguma coisa tão bonita como o verão dinamarquês, / visto com estes óculos de sol?