25/06/12

A vida em Slotsalleen [1]: Um post a bem dizer só para os amigos

 *
1. Soalho de pinho branco: sobre a etimologia de algumas expressões populares

Decidimos que paredes e portas haviam de ser brancas e que o soalho havia de ser o mais claro possível.

As paredes é o mais fácil, sempre a rolar. Mas nas portas não dá para usar rolo nas almofadas. Têm de ser pintadas à mão, a trincha e pincel, e há partes que há que pintar e voltar a pintar e ficar a observar com cuidado, não vá a tinta escorrer. Grande pincel!

Quanto ao chão, depois de afagado, dei-lhe um tratamento que impede que o uso e o tempo o escureçam. Mas são uns bons 80 metros quadrados no total e aquilo tem de ser aplicado à mão, com uma trincha graúda. Vi-me à brocha.

Em seguida, tem de se passar com uma espécie de lixa de plástico, para alisar a madeira, antes de a lavar três vezes com um sabão especial. “Pode alugar-se uma máquina para esse trabalho”, explicou-me alguém. «Que se lixe…», pensei eu, não há de ser assim tão difícil de fazer à mão. Mas era. Fazer faz-se, enfim, mas é trabalho lixado, digo-vos eu.

O sabão líquido não pinta propriamente a madeira, mas tem algum pigmento incorporado, dá um tom esbranquiçado ao chão. Uma grande trabalheira, em suma, mas fica com pinta.
 *
2. Há alguma coisa tão bonita como o verão dinamarquês?

Entre os decisores celestes, há pelos vistos quem leve demasiado a sério a expressão “regime de chuvas de verão”… Também não era preciso começar a chover logo a seguir ao solstício…

Quem, no Sul, louva o uso nórdico da bicicleta (que é, diga-se de passagem, efetivamente louvável) não deve esquecer-se que, em metade dos dias do ano, é à chuva que se vai de bicicleta para a escola e para o trabalho.

“A roupa para a chuva anda sempre, sempre connosco na mochila, esteja a chover ou a fazer sol”, explica a minha mulher à minha filha, que deixou na escola o casaco e as calças impermeáveis de vestir por cima da roupa quando chove. A Joaninha já não se lembrava de que não há tempo sem chuva nesta terra e que uns quantos dias de sol não significam que agora é que começou finalmente o bom tempo.

[E se fosse como a chuva de verão nos trópicos, onde o calor nos enxuga logo a roupa e a alma, mas aqui o calor é um bem raro, mesmo no verão…]


Henry Nielsen & Ib Schønberg, “Hvad er så skønt som den danske sommer?”, do filme Ved kongelunden, 1953
Há alguma coisa tão bonita como o verão dinamarquês,/ numa vala do caminho, quando o céu está azul?/ Está-se aqui tão bem como duas gemas de ovos / num leito de espinafres. Pois é, e isso merece um brinde. / O que é preciso, quando uma pessoa tem a garganta cheia de pó, / é uma bejeca e um fosso coberto de trevo. / Há alguma coisa tão bonita como o verão dinamarquês, / visto com estes óculos de sol?

6 comentários:

Carla R. disse...

Uma das coisas fantásticas da blogosfera é podermos entrar na vida dos outros países, na nossa língua materna. E nada melhor do que se começar com as vantagens, até aqui desconhecidas, do Verão dinamarquês. Aí, as nuvens ali ao fundo...

Pronto, a caixa de comentários teve logo que ser inaugurada por uma intrusa, como se não bastasse o título...

Vítor Lindegaard disse...

Bom, o post tem o título que tem porque eu achei que só devia interessar aos amigos (e mesmo a esses...), mas são bem vindas e bem vindos todas as intrusas e todos os intrusos. Agora, isto do verão dinamarquês tem mesmo que se lhe diga - quando fui agora buscar as minhas filhas à escola, arrisquei não levar a roupa da chuva - e ena!, a molha que eu apanhei...
Tirando isso, comecei a seguir o kaputt 2.00, que não conhecia. Obrigado pelo comentário, Carla.

Nuno (@gmail) disse...

esta variação do mesmo tema. Agora só vos falta bom tempo e uns coelhos, e toca a ir cantar em coro para o jardim.

Vítor Lindegaard disse...

Obrigado, Nuno. Eu conheço esta canção do Ib Schønberg, até a publiquei no Facebook. É um clássico! Foi pena foi não ter publicado este vídeo que tu linkaste, que tem a letra. Mas é isso mesmo, agora é arranjar uns coelhitos. Bom tempo também era fixe, mas não devemos ser ambiciosos demais, até porque, como diz o fado, "a ambição desmedida / faz-nos crer o que não há" :) Um abraço e até dia 7 ou 8!

Helena Araújo disse...

Esses trabalhos chatos inspiram-te muito! Fartei-me de sorrir com os trocadilhos.

Vítor Lindegaard disse...

Olá, Helena, bem vinda de volta. Eu também estou de volta, depois de uma semaninha de férias e de fazer a declaração trimestral de IVA (ui, o que eu não gosto destas coisas de contabilidade, tenho sempre medo de me estar a enganar...). O blog também é capaz de voltar à vida, depois deste período de hibernação - textos começados não me faltam - falta é acabá-los... Beijinhos!