Dizia alguém no outro dia (já não me lembro quem, peço desculpa) que é raro assumir-se a ignorância no espaço público, que ninguém quer dizer que não sabe, mesmo quando é óbvio que é esse o caso. Não sei se é bem assim. Também não faço ideia se a assunção da ignorância é mais rara no espaço público que em privado. É curioso: dou-me conta de que a frase “não sei se é bem assim” não é normalmente uma simples declaração de ignorância, que era o que eu aqui queria fazer, mas antes um desacordo cortês ou moderado, correspondendo a algo como “creio que não é bem assim”…
Sublinha-se muitas vezes, e com toda a justeza, que a assunção da ignorância, nem que só perante si próprio, é uma posição cognitivamente válida, e umas das mais válidas até, porque é o ponto de partida para o inquérito e, portanto, para a expansão do conhecimento: se não assumir que não sei, não vou estar disposto a aprender. Mas não só: a assunção da ignorância pode valorizar-se também como posição puramente negativa de racionalidade, arrumação da vida e modéstia, que não leva forçosamente à procura de conhecimento: “Isto não sei e não vou saber, porque não é o que mais me interessa e não tenho tempo para procurar saber tudo – deixo isto a quem saiba ou queira saber desta questão.”
Uma questão relacionada com esta é a dos resultados negativos, seja na investigação científica seja em qualquer outro tipo de pesquisa: “Pensei que podia ser isto, mas não é; depois, pensei que podia ser antes isto, mas também não é… Não sei o que poderá ser.” Muitas vezes, estes resultados não se aceitam, pura e simplesmente, e são outras vezes olhados de soslaio: “Então?” Mas eu acho que se devem aceitar os resultados nulos de qualquer investigação como tendo exatamente o mesmo valor de qualquer conclusão positiva, até porque os resultados nulos não são nulos em sentido estrito – saber que não é o que se pensou que pudesse ser já é saber muito. [Ah, apesar dos preconceitos contra os resultados negativos, existem algumas revistas especializadas na publicação de resultados negativos, como o Journal of Negative Results e outros.]
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