Interrogar-se-ão os meus amigos e talvez também outros leitores: “Mas porque insiste este homem nesta conversa?” Bom, não será bem espírito de missão, mas é certo que esta é uma das minhas guerras, digamos assim, e, para não ser tão pesada a insistência, achei por bem mudar de tom – uma vez sem exemplo, vá. A razão mais imediata do texto, porém, foi uma aparição. Um ser bastante fantástico, talvez anjo, talvez demónio, apareceu-me em sonhos, revelou-me a verdade e instruiu me. “Os argumentos económicos têm muita força”, disse-me ele para concluir a sua revelação, “porque o que manda na vida da malta é o carcanhol…”
Às minhas leitoras e aos meus leitores que acreditem que verdade é apenas outra maneira de dizer crença e que acreditem que não há nada objetivo, mas apenas olhares sobre o mundo, cada qual tão válido como qualquer outro, quero comunicar que me devem 120 euros, que agradeço que me paguem com a maior brevidade possível, muito obrigado, porque (cito não uma pessoa específica, mas muitas pessoas ao mesmo tempo) “a vida custa a todos e isto ‘tá mau”.
Podem argumentar que não têm conhecimento da dívida e que não posso provar que me devem esse dinheiro. Mas isso é a vossa visão, eu tenho outra diferente, que também é verdade, não se esqueçam. Ou seja, é verdade que me devem dinheiro. Além disso, sabem com certeza que é impossível provar a inexistência seja lá do que for, de maneira que é inútil tentarem provar que a vossa dívida não existe – o que seria, aliás, contra os vossos princípios de que não há provas definitivas de coisa nenhuma e que a verdade é só uma crença. Evidentemente, podem não pagar e eu não tenho maneira de vos obrigar a fazê-lo, porque a lei retrógrada que temos se baseia no disparatado princípio positivista de que é preciso provar que alguém nos deve dinheiro para se lhe exigir pagamento; mas não se livram de vos considerar uns grandes caloteiros, porque essa é que é a (minha) verdade.
As outras minhas leitoras e os outros meus leitores que acreditam que o bom senso nos obriga a aceitar por verdade apenas aquilo que se pode demonstrar de modo a ser percebido por todos, esses não me devem nada.
1 comentário:
Gostei muito deste argumento e da sua conclusão de grande consistência. Felizmente situo-me no conjunto dos não devedores!
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