Karim, a personagem principal de The Buddha of Suburbia, de Hanif Kureishi, tem de escolher entre o pai e a mãe que se separam. E acaba por escolher o pai, porque o ambiente de atores, músicos, festas e sexo em que este vive com a sua namorada Eva é muito mais interessante do que o insípido universo doméstico da sua mãe. Traduzo eu:
Pensei na diferença entre as pessoas interessantes e as pessoas boas. E como não podem ser sempre as mesmas. As pessoas interessantes, queríamos estar com elas – tinham espíritos fora do vulgar; com elas, víamos coisas de uma forma nova e não era tudo morte e repetição. (…) E depois havia as pessoas boas, que eram desinteressantes e não queríamos saber o que elas pensavam, fosse lá do que fosse. Eram como a minha mãe, boas e simples, e mereciam mais amor. Mas eram as pessoas interessantes, como Eva com a sua personalidade bem definida, atraente, que acabavam por ficar com tudo (…).
Já antes, Karim, tinha confessado: “Comecei a considerar o charme, e não a cortesia nem a honestidade, e nem sequer a decência, o dom social de base. E até comecei a gostar de pessoas frias ou más, desde que fossem interessantes.”
Estas linhas ficaram-me sempre na cabeça; e surpreende-me, quando penso agora nisso, não me lembrar de outras reflexões sobre a questão, que é das mais fundamentais na vida de qualquer pessoa e sobre a qual, por isso mesmo, já todos refletimos muito, não é verdade?
Que, para seduzir os outros seres da espécie, exibamos sinais que nos saem caros, como diz Amotz Zahavi, isto é, que façamos coisas difíceis e por isso interessantes, eis a causa de muitas coisas bonitas – e de muitos problemas. Como seria tudo mais simples se a nossa estratégia primeira para seduzir os outros fosse sermos bons para eles…
[Foto de Jebulon. Wikimedia Commons] |
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