Uma coisa que é engraçada no planalto andino, de onde as batatas são nativas, é observar-se a variedade de batatas que por lá há e que na Europa não se conhecem (embora também haja na Europa batatas muito exóticas). Costuma ser assim, não é? – no centro genético de um ser vivo, a variação é maior que nos sítios para onde ele depois se deslocou ou foi levado.
As três fotos da esquerda são de variedades andinas, mas a foto da direita é de uma variedade francesa, a Vitelotte. Todas as fotos deste artigo: Wikimedia Commons. |
Dois tipos de pisa-batatas, um utensílio
que, não sei porquê, falta em muitas
cozinhas portuguesas,
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De batatas cozidas e de batatas salteadas, não digo nada, porque não há nada a dizer. Relativamente ao puré, dou-vos dois pequenos conselhos: que não façam puré nem com máquinas nem com passe-vite, porque o acho melhor só esmagado com um pisa-batatas – ou simplesmente com uma chávena ou um garfo; e que não tenham medo de juntar à batata outro legume que tenham à mão; conseguem-se misturas saborosas com abóboras, curgetes, bróculos, cenouras, sei lá, muitas coisas. É uma coisa que neerlandeses e belgas fazem muito, mas eles também misturam com a batata couves e endívias, o que cá, em casa, não costumamos fazer.
Interlúdio musical:
Ian Dury and the Blockheads, "Mash it up Harry", 1998,
uma cantiga sobre gente e batatas (?)
Batatas assadas no forno são fixes, com murros ou sem eles. Por aqui, como noutros países da Europa central e do norte, compram-se batatas muito grandes para assar no forno. Uma batata por pessoa já dá, se não se for muito glutão. Depois de assadas com casca, abre-se-lhes uma fenda longitudinal, que se enche de manteiga. Não é nada mau.
As batatas Hasselback têm o nome do restaurante de Estocolmo, onde, em 1953, foram inventadas por by Leif Elisson |
Os franceses e os belgas disputam, como se sabe, a invenção da batata frita (eis um resumo da discussão, em francês). Na falta de certezas, assentemos que nasceu algures entre Paris e Bruxelas, pronto, e não devemos andar longe da verdade. O que é importante saber sobre as batatas fritas é que têm de ser fritas em óleo limpo e sem muito sabor, e que têm sempre de ser fritas em duas vezes. É só isso.
Rösti é uma receita suíça, como quase se adivinha quando se ouve o nome (quando acaba em i, ou é suíço, como rösti ou müesli, ou quase suíço, como spätzli, não é?). São batatas raladas e depois salteadas, às vezes com bacon ou salsa, às vezes sem nada, que parecem quase um pastelão de ovos, porque o amido da batata aglutina as raspas.
Há várias maneiras de fazer rösti, é só escolherem a que mais vos agrada – ou convém. Uma maneira comum é cozer as batatas e deixá-las no frigorífico de um dia para o outro antes de as ralar (ver aqui), mas também há quem rale as batatas cruas. Eu, muitas vezes, nem uma coisa nem outra: entalo-as sem as cozer completamente e depois é que as ralo e salteio. Claro, em não estando completamente cozidas, têm de se saltear mais tempo com lume mais brando – não há nada pior que batatas mal cozidas… Agora, ultimamente, tenho feito mais uma variante menos clássica, que fica também muito boa: Ralo as batatas cruas na lâmina de ralar mais fina do robô de cozinha (com certeza que também se pode fazer à mão com um ralador muito fininho, mas nunca fiz), depois junto-lhe alho muito picadinho (aí uns três dentes por quilo de batatas), sal, mexo tudo muito bem, escorro a água que as batatas deitam e salteio depois. Os suíços haveriam de considerar um crime esta falta de ortodoxia, mas a verdade é que fica bom e, em cozinha, conta sempre mais o sabor que a tradição.
Bom proveito!
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