«O filme Depois da morte (Dopo la morte/Nach dem Tod/Après la mort), da realizadora suíça Lara Tàcita, é descrito pela autora como um ensaio:
Não é tanto um ensaio filmado, que seria outra coisa, mas é um ensaio mais que uma obra de ficção. Cheguei a pensar em categorizá-lo simplesmente como documentário, mas achei que seria uma classificação algo arrogante. Acho que muita gente vê o filme como um poema visual, não no sentido mais tradicional da expressão, mas como o equivalente cinematográfico da música programática, em que se pede ao ouvinte que aceite que a obra descreve ou de alguma forma sugere, de facto, o programa, a história, a ideia, enfim, que o autor com ele se propõe tratar. Para mim, também não é isso. Mas compreendo que o vejam assim. Também já vi o filme descrito como filme de tese, mas não me parece bem. Não só me parece uma designação demasiado pomposa, como se lhe aplica mal, se compararmos Depois da morte com outros filmes que costumam ser assim designados.Embora muitos vejam nele uma rutura com todas as formas anteriores de cinema, julgo que o filme de Lara Tàcita segue apenas as convenções narrativas habituais. Todos os romances, todas as novelas, todos os filmes são feitos de uma escolha das imagens, situações ou palavras que o autor considera relevantes para a história a ser contada, para o ambiente a ser sugerido ou para a ideia a ser veiculada. O tempo total em que «se passa» a narrativa, que pode ser de horas a séculos, mas que é, mais comummente, de meses a anos, é reduzido ao tempo em que ela é apresentada ao público — que, no cinema, normalmente é entre uma e duas horas, às vezes um pouco mais. Mesmo quando, em propostas ditas hiper-realistas, se insiste em mostrar as banalidades que são por tradição omitidas noutras histórias (fazer comida, passar a ferro, lavar os pés…), essa redução narrativa não deixa nunca de existir. E é isso que Lara Tàcita faz também aqui neste filme: durante três horas e 16 minutos apresenta-nos uma seleção dos acontecimentos por que passa o protagonista (que nunca é nomeado, nem nunca se vê no filme) depois da sua morte.»
Leo Fredholm, Gazeta d’Aosta, 18.12.22
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