12/04/24

Frikadeller

 

A ideia de fazer bolas de carne picada é, pelos vistos, tão natural que toda a gente a teve em todo o lado e já há muito tempo (a Wikipédia dá uma boa panorâmica da coisa). No sul da Europa, as almôndegas são feitas num guisado com tomate, mas em muitos outros sítios são fritas ou cozidas num caldo. É claro, variam também a carne usada e os temperos — e o tamanho das bolas. 

Na Escandinávia, as bolas de carne são um prato comum e chamam-se algo como «pãezinhos de carne» em norueguês, sueco e finlandês (kjøttboller, köttbullar e lihapullat, respetivamente), mas frikadeller em dinamarquês. Dizia-me uma amiga brincalhona, já há muitos anos, que uma experiência traumática de todos os homens escandinavos — segundo ela, bem descrita na literatura psicanalítica nórdica — era a passagem das almondegas da mãe às almôndegas da mulher. Bem feito, digo eu, fizessem os homens a comida e nada disso acontecia. Mas a verdade é que, pelo menos no caso das frikadeller (não sei nada das bolas de carne dos outros países escandinavos), há sempre grande uniformidade de sabor e textura, nada que justifique traumas. A não ser que apareça algum português com a mania das inovações… Mas passemos à substância da coisa. Frikadeller clássicas: 

Meio quilo de carne picada (em princípio de vitela e de porco misturadas, também pode levar um bocadinho de toucinho); 1 cebola média; 3 colheres de farinha; 1 ovo; 1,5 dl leite; e sal e pimenta, claro. Mistura-se tudo bem misturado, deixa-se descansar pelo menos uma horinha no frio, molda-se a carne em bolinhas e frita-se em muita manteiga. 

Frikadeller com salada de batata. Foto de cyclonebill, daqui. Licença Creative Commons. 
Eu muitas vezes acrescento uma cenourinha picadinha muito fina e uso flocos de aveia em vez de farinha. Também já usei salsa. Vão experimentando, a ver o que acham que fica bem. Atenção: não se pode (!!!) misturar tudo na máquina. Quer dizer, dá para picar e misturar na máquina os outros ingredientes além da carne e misturá-los depois com a carne à mão, mas meter a carne no processador, não. Ou então, só uma pequena parte da carne, vá. E cuidado, frikadeller é um prato muito guloso, uma pessoa vai comendo, comendo, sem dar por isso, e nunca mais para. 

Agora, da mesma forma que há bolas de carne em todo o lado, também há pastéis de peixe em muitos lados. As frikadeller de peixe (fiskefrikadeller) são o correspondente dinamarquês dos pastéis de bacalhau. Mais uma vez, uma receita clássica, que se pode adaptar ao gosto de cada um: 

Para 800 de bacalhau fresco (ou outro peixe qualquer, mas aqui costuma usar-se bacalhau fresco), uma cebola, duas claras de ovo, três colheres de fécula de batata e três colheres de farinha, e 1 dl de leite, além de sal e pimenta. Com o peixe é que sim, pode triturar-se tudo junto no processador, até obter uma pasta homogénea, que se frita em lume brando. Se não vos sair bem à primeira, ajustem as quantidades à segunda, sim? 




1 comentário:

jj.amarante disse...

Quando estive na Dinamarca nos anos 70 do século passado, primeiro na excursõa de finalistas do Técnico e depois numa visita de treino a um fornecedor de sistemas de controlo em tempo real de centrais eléctricas, as diferenças de preços entre restaurantes portugueses e dinamarqueses eram abissais. Ficou-me a memória do nome Frikadeller como comida abordável embora não me lembre da qualidade. Gostava das smorrebrod que serviam na cantina da empresa que visitei. Actualmente aprecio muito a textura das almôndegas da IKEA, quer no restaurante quer as que fazem cá em casa, acho que com um refogado simples com azeite e cebola e mais alguns ingredientes.