Se haver aqui doce de morango e de framboesa já é doentio que chegue, haver doce de alperce é mais doentio ainda. É que os morangos e as framboesas com que se fazem os doces são muito provavelmente dinamarqueses; agora, os alperces, de certeza que não… Imaginemos que são espanhóis: vão de Espanha para a Dinamarca, onde são transformados em doce; daí, são exportados para a África do Sul, um país agrícola com todas as condições para produzir alperces – que, aliás, produz mesmo; e, finalmente, são exportados da África do Sul aqui para Manica, onde também se pode produzir alperce – e, onde, aliás, há quem os produza, embora em muito pequenas quantidades. Se tivermos em conta que a mão-de-obra é muito mais cara na Dinamarca do que na África do Sul ou em Moçambique, enfim, tudo isto é, no mínimo, muito estranho. Doentio, diz a minha mulher.
É preciso dizer que o doce de alperce dinamarquês não concorre com os doces sul-africanos. Não é para o comum da população, é só para uma pequena elite que não quer comer daquela jam* encarnada compacta e de aspecto altamente artificial que a malta aqui come. Ainda assim, se há mercado para doce de alperce de qualidade em Chimoio, devia aparecer quem o produzisse localmente – ou, pelo menos, na África do Sul – a preços muito mais baixos, com vantagens óbvias para a economia da região. Mas não há nada que garanta que isso se possa mesmo fazer – aqui não só a produção de alperces e a produção de açúcar não são subsidiadas, como há uma série de outros entraves, económicos e não só, que fazem com que seja mais fácil importar doce de alperce da Dinamarca do que produzi-lo aqui. O que, seja do ponto de vista ambiental, seja do ponto de vista moral, é um bocado doentio, como diz a minha mulher. Ou não?
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* É assim que se diz doce em Moçambique, pronunciar djame.
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