12/01/24

Uma aldeia no Cáucaso


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Quando publiquei no Facebook umas quantas fotos da região do Samegrelo-Alto Svaneti, na Geórgia, alguém comentou numa foto de Adishi: «Deram um saltinho a San Gimignano?» Bom, nunca estive em San Gimignano, mas não creio que seja muito parecido com Adishi. O que têm de semelhante é só serem ambas localidades muito antigas (San Gimignano um pouco mais antiga que Adishi) e terem ambas muitas torres. 

Adishi é, infelizmente, uma aldeia que se está a desmoronar. Não tenho fotografias que cheguem para documentar satisfatoriamente a minha afirmação, pelo que terão de me acreditar sem evidências, se não é pedir-vos demais: mais de metade das casas da aldeia de Adishi, estão em ruínas; a outra metade são guesthouses para turistas a caminho de Ushguli. 

É sempre triste ver uma aldeia assim, não é? Lembro-me de aldeias cheias de ruínas em Portugal e em França — nas Beiras, na Ardèche, na Lozère, na Drôme, em tanto lado —, desertas ou quase desertas, habitadas só por alguns anciãos sem maneira de lá sair ou sem energia já para o fazer. Terras sem perspetivas de futuro, onde ninguém quer ficar. 

Em França, ouvi dizer várias vezes que as mulheres partem primeiro. François Béranger tem até uma canção sobre esse fenómeno do êxodo rural feminino no departamento da Drôme e sobre a tentativa falhada de importação de mulheres. Ouvi muitas vezes o mesmo sobre zonas rurais do norte da Suécia. Contavam-me que também lá os homens tentavam importar mulheres do estrangeiro. 

São coisas que se dizem, mas será mesmo assim? Uma breve pesquisa na internet mostra-me que, um pouco por toda a Europa, se tem observado um maior êxodo rural de mulheres jovens, que se pode explicar sobretudo por terem, nas zonas rurais, menos opções de emprego que os homens e por cada vez mais procurarem um nível de educação a que nem sempre aí têm acesso. É claro, as coisas nem sempre se passam exatamente assim em todas as regiões, mas parece haver alguma justificação para o que se ouve dizer.

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Em Adishi, há o turismo, valha-lhe isso. Quando se chega à aldeia vindo de Zhabeshi*, uma placa anuncia que há ali «Market, Taxi, Wi-Fi, Fast Food». 

A povoação deve ter uma quinzena de guesthouses, talvez mais. Ao que vimos e ao que se pode ver nas avaliações nos sites agregadores de ofertas de alojamento, a quase totalidade de guesthouses e pensões familiares, em Adishi e nas zonas rurais da Geórgia em geral, são geridas por mulheres. Não sei nada sobre as suas expetativas em termos de educação, mas o turismo dá-lhes seguramente algum rendimento. 

Quando é que, de meia em ruínas, a milenária Adishi passará a aldeia fantasma?


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* Normalmente, é o segundo dia de uma magnífica caminhada de quatro dias no Cáucaso: cerca de 57 km de Mestia a Ushguli, pernoitando em Zhabeshi, Adishi e Iprali. O ponto mais baixo da caminhada é a cerca de 1400 m de altitude e o mais elevado a cerca de 2730 m. No total, sobem-se 3100 m e descem-se 2100. Aconselha-se.






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