12/02/08

Português de Lisboa: ao que isto chegou…

Duas ideias que há, a primeira muito estranha, a segunda um bocadinho menos:

Muitas pessoas de Lisboa pensam que não têm sotaque. Toda a gente do Porto sabe que fala à Porto, mas muitas pessoas de Lisboa pensam que não têm um sotaque específico, que falam “um português neutro”… Ora o sotaque de Lisboa é um sotaque como outro qualquer. Como o de Beja ou de Portimão ou da Malveira da Serra. Sotaques neutros, só se forem as maneiras de falar artificiais, criadas precisamente para não serem de sítio nenhum nem de nenhuma classe, como a received pronunciation dos locutores da BBC; ou então o sotaque dos filhos de emigrantes, que não têm sotaque estrangeiro mas também não têm sotaque de nenhuma região. Tirando isso, o mais próximo de neutro é muito misturado. Mas o dialectologista perfeito, a existir, deveria ainda assim ser capaz de fazer avarias como as do Henry Higgins de Bernard Shaw, mal ouvisse alguém enunciar uma frase simples: “Ah, ah, já estou a ver, meu amigo: você nasceu na Moita, de uma mãe alentejana e pai estremenho, mudou-se no fim da infância para Pero Pinheiro, mas fez os estudos em Sintra, e, quando acabou o liceu, foi morar para Vila Real de Santo António*…”

Há muitas pessoas (sobretudo de fora de Lisboa, naturalmente) que pensam que, sobretudo com a força uniformizadora da televisão, o português de Lisboa está a ser imposto ao resto do país e a dar cabo dos falares regionais. É verdade até certo ponto. É verdade que a variante do português que se está a espalhar é o falar das classes “cultas” da capital e não há nisso nada de extraordinário: normalmente o falar “culto” da cidade ou da zona mais importante é o que se impõe. É assim a vida…

Lisboa era uma ilha linguística, no meio dos falares meridionais, que, curiosamente, começam não a sul do Tejo, como seria talvez de prever, mas um bocadinho a norte, não sei porquê (ou começavam, seja, isto agora está tudo muito esbatido…). A única característica do sotaque lisboeta que tenho a certeza que se está a propagar bem é o chamado r gutural. Mas é de notar que não é um fenómeno oriundo só de Lisboa, mas também do Porto e das ilhas. Não sei até que ponto é que outra característica do sotaque lisboeta que é pronunciarem-se da mesma maneira os sons correspondentes às grafias -ãe e -em estará também a espalhar-se. E também não posso dizer se o pronunciar-se -io como -iu (rio como riu, por exemplo), que era o traço mais caricato do falar da capital para ouvidos não lisboetas (o que eu fui gozado por causa disso!...) também não se estará a difundir… De resto, as demais características daquilo a que eu chamo, sem grande rigor técnico, mas com o coração inflado de bairrismo (ai, credo, ‘tadinho…) “o verdadeiro sotaque da Lísbia” não têm tido, de certeza, a mesma fortuna. E estão, acho eu, tão ameaçadas como as dos outros falares regionais...

Uma característica daquilo a que eu chamo o “verdadeiro sotaque da Lísbia” é a abertura de certos oo: não se diz tourada, mas sim tòrada; nem se diz ourives, mas sim òrives; não se diz chouriço, mas sim chòriço; não se diz ouvir, mas sim òvir; etc. E não são só os -ou- que se pronunciam ó – também au- e até al-, às vezes: “Vais ó Ògueirão? Òguenta aí, qu’eu vou contigo!”

Há também muitos ii que não se pronunciam. Se alguém me disser que é “de Lisboa”, eu acho esquisito, porque em Lisboa diz-se L’sboa, não se diz Lisboa… E nem é esquisito que eu acho, é ‘squ’sito.

Aliás, às vezes nem é ‘squ’sito que se diz, é chq’sito, depende. Ora aí têm mais uma característica do sotaque de Lisboa: pronunciar os ss em fim de sílaba como ss explosivos de início de sílaba. Por outras palavras, pronunciar da mesma maneira chefia e esfia.

Outra coisa típica é o desaparecimento de muitos rr. Por exemplo, os que vêm em final de palavra costumam desaparecer: “Tavas a falá’ c’a Dona Luísa?” “Não, ‘tava a falá’ c’uma mulhé’ que tu não conheces…” Mas não só, também noutros contextos: “Não comp’s isso aqui! Quat’centos paus? Atão s’eu ‘inda ontem vi isso mais barato nout’ lado. Os gajos aqui são semp’ careiros, pá!”

Mas, por outro lado, também pode, às vezes, ouvir-se o r seguido de uma vogal que não aparece na escrita e que pode variar um bocado: “Estás a perceber?” pode ser “‘Tás a ‘cê’ere?” ou, mais rufia ainda, “‘Tàs a cê’erim?”. Neste aspecto, o sotaque de Lisboa é mesmo um sotaque do Sul, não haja dúvida.

Como nos outros sotaques do Sul, também se transforma, em Lisboa, o ditongo -ei- numa vogal só. Só que, em vez de se o reduzir a ê, como nos sotaques saloio, alentejano ou algarvio, transforma-se-o antes em â: peixe diz-se pâxe, madeira diz madâra e assim sucessivamente…

Há também palavras isoladas que têm uma pronúncia especial. Não existe o advérbio muito mas só uma variação bizarra desse advérbio, muita (muitas vezes pronunciado m’ta): muita grande, muita pequeno, muita giro, etc. E o mesmo se passa com o quantificador de nome: muita peso, muita dinheiro, sempre muita... Também não existe também, mas sempre e só tamém (quase como em asturiano, não é?). E não se diz mesmo, mas antes memo. O adjectivo grande, quando vem anteposto a um nome, pronuncia-se sempre ganda: ganda pinta, ganda problema, etc.

Bom, e deve haver muitas mais que agora não me vêm à cabeça. Mas ‘tá-s’a perdê’ ist’tudo… ‘Gora, a malta fala como escreve, é uma tr’steza. Quat’centchinquenta agora pronuncia-se quatrocentos e cinquenta, vâjam lá vocês ó qu’ist’chegou… E depois, as palavras q’agora s’usam, um gaj’inté fica azul… Uma drofa agora chama-se porta e umas galdinas agora são calças… Até já há quem chame esófago ao canal da sopa

__________

* Estou a reinar, claro está, uma coisa assim é impossível mesmo para o dialectologista perfeito que não há. A passagem da peça Pygmalion a que me refiro é aquela em que o foneticista conhece o pai de Liza, Alfred Doolittle:
DOOLITTLE. [à porta, sem saber qual dos dois cavalheiros é o homem que ele procura] Professor Higgins?
HIGGINS. Sou eu. Bom dia. Sente-se.
DOOLITTLE. ‘Dia, chefe. [Senta-se com ar emproado] É um assunto bem sério que aqui me traz, chefe.
HIGGINS [para Pickering] Cresceu em Hounslow. Mãe galesa, acho eu. [Doolittle abre a boca de espanto e Higgins continua] O que é que você quer, Doolittle?

29 comentários:

a última estação disse...

cunféri.

Anónimo disse...

Parabéns pelo texto. Com ironia, graça, documentado e útil para quem vive a língua portuguesa
Luís Gaspar
http://www.estudioraposa.com

T disse...

Gostei muito deste post.
Que direi eu, nascida do Norte, exilada em Coimbra e transfeida para Lisboa? As pessoas atentas dizem que ainda tenho expressões nortenhas, apesar dos 41 anos de décalage.

Anónimo disse...

isso tambem nao e bem assim. as regras do sotaque lisboeta

Anónimo disse...

Gostei muito do seu texto. Concordo com tudo e gostaria de deixar alguns comentários. É verdade que há uma tendência muito forte de os mais fortes (leia-se lisboetas) se imporem em tudo, mesmo até através das formas de dizer ou do sotaque, pretendo-se adoptá-lo como o único, o correcto, quando na verdade está longe de o podermos considerar como o português padrão.
Sobre as maneiras de dizer ocorre-me uma pequena história a propósito do termo “sapatilhas” utilizado sobretudo no norte e centro do país, para designar sapatos desportivos, apelidados de “ténis” em Lisboa. Contou-me um respeitável professor, já reformado, que até ao início dos anos 60, toda a gente dizia em Portugal “sapatilhas”. Na verdade foram os brasileiros que introduziram o termo “ténis” e foi então que algumas senhoras da classe alta, as chamadas “tias” da linha de Cascais, vendo aqui uma maneira de se distinguirem da populaça que chamava sapatilhas aos sapatos desportivos, começou a usar o termo brasileiro “ténis”. Rapidamente a moda pegou e não tardou que toda a Lisboa começasse a utilizar o termo “ténis” abandonando o termo sapatilhas que no entanto continua a usar-se no norte e centro do país, pelo menos. Aqui há dias, numa sapataria de Barcelos, ouvi uma cliente acompanhada do seu filho em idade escolar pedir à empregada “pode mostra-me aquelas sapatilhas que estão ali na montra?” ao que a funcionário acrescentou “Ah, aqueles ténis”.
Mas sobre o sotaque de Lisboa, tomo a liberdade de lhe enviar – para o caso de lhe ter passado ao lado aquando da publicação em “ O Público” - um interessante texto de Vital Moreira, com alguns acrescentes meus

Crónica do Falar Lisboetês
Vital Moreira

…não é preciso ser especialista para verificar as evidentes particularidades do falar alfacinha dominante. Por exemplo, "piscina" diz-se "pichina", "disciplina" diz-se "dichiplina" e o meteorologista dirá “dexida de temperatura” em vez de “descida de temperatura”. E a mesma anomalia de pronúncia se verifica geralmente em todos os grupos "sce" ou "sci": "crecher" em vez de "crescer","seichentos" em vez de "seiscentos", e assim por diante. O mesmo sucede quando uma palavra terminada em "s" é seguida de outra começada por "si" ou "se". Por exemplo, a expressão "os sintomas" sai algo parecido com "uchintomas", "dois sistemas" como "doichistemas".Ainda na mesma linha a própria pronúncia "de Lisboa" soa tipicamente a"L'jboa".
(E eu aqui acrescentarei dizer que dizer-se que é anomalia talvez seja excessivo, antes encontraremos a explicação para o facto de os lisboetas típicos pronunciarem todos os “ss” do final das palavras com o som “ eche” como por exemplo “doich” em vez de “dois”, “luvach” “luvas”, “sacosch” “sacos”, pelo que na articulação rápida das palavras ao dizer-se “descida” soa ”dech ida” ou “as suas coisas” soar algo parecido com “asch suas coisas”).

Outra divergência notória tem a ver com a pronúncia dos conjuntos "-elho" ou " -enho", que soam cada vez mais como "-ânho" ou "-âlho", como ocorre por exemplo em "coelho", "joelho", "velho", frequentemente ditos como "coâlho", "joâlho" e "vâlho" (ou ainda “espélho” em de “espelho”).
(Acrescentarei eu também que é comum ouvir-se a um jornalista desportivo na televisão dizer “a equipa do Paços de Ferréra empatô” em vez de “Paços de Ferreira empatou” ou ouvir o pivot dizer ”Telhéras” em vez de “Telheiras”. Do mesmo modo, o lisboeta típico que se preze dirá “Oh Senhori Dótôri” em vez de “Oh Senhor Doutor” - aqui aos ouvidos de um português do norte ou do centro, a soar-lhe já uma influência alentejana, talvez pela proximidade).
Uma outra tendência cada vez mais vulgar é a de comer os sons, sobretudo a sílaba final, que fica reduzida a uma consoante aspirada. Por exemplo: "pov'" ou "continent'", em vez de "povo" e de"continente". Mas essa fonofagia não se limita às sílabas finais. Se se atentar na pronúncia da palavra "Portugal", ela soa muitas vezes como algo parecido com "P'rt'gâl".

Anónimo disse...

Isso nem sempre é assim! Desde que nasci que vivi em Lisboa e há muitas coisas aí que eu não digo! E eu moro mesmo opé do Colombo e do Estádio do Benfica .-.

Vítor Lindegaard disse...

Caro anónimo, importa-se de explicar o que é que nem sempre é assim? De tanto que há aqui escrito, e por várias pessoas, não sei a que se refere...

Anónimo disse...

Eu sou nascida e criada mesmo no centro de Lisboa e não falo assim de forma alguma ... Por exemplo nós não "comemos" os i's e tambem não dizemos chefia e esfia da mesma forma --'.
A única coisa que eu concordo aí é na abertura dos Ó's talvez. Talvez essa confusão venha do facto de nós,Lisboetas, falarmos muito rápido e para alguém de fora com o ouvido não treinado possa soar de forma diferente.
Pessoalmente acho que a região de lisboa nao tem nenhum sotaque característico... pode ter havido em tempos mas hoje já não deve quase existir. Na minha opinião se temos algum rasto de pronuncia é devido aos nossos pais porque a maior parte fez parte do êxodo rural da decada de 80.

Vítor Lindegaard disse...

Cara anónima nascida e criada mesmo no centro de Lisboa:

Acredito que não fale assim, que não coma os ii e que não diga chefia como esfia. Mas... quem são vocês quando diz "nós"? Esquece-se de que eu também sou lisboeta e falo assim. Eu e muitos outros lisboetas. Tenho até um amigo (exagerado que ele é, e bairrista!) que diz que quem pronuncia o i de Lisboa e de lisboeta não pode ser mesmo de Lisboa, não pode ser um verdadeiro lisboeta.... Quando aos [ʃ] implosivos pronunciados como explosivos, não é essa uma característica tão notória do sotaque das classes menos educadas de Lisboa que qualquer comediante usa esse truque para falar à pinta?
Quanto à ideia de que a região de Lisboa não tem sotaque, só posso repetir o que disse no texto: isso é uma impossibilidade por definição. sSerá Lisboa um não-lugar, uma u-topia no sentido original do termo? É que, como qualquer introdução à dialetologia lhe explicará, TODOS os lugares têm forçamente a sua pronúncia. E, espanto-me eu, como poderia ser de outra maneira?
Finalmente, e lamento ter de a contrariar mais uma vez, o sotaque dos pais é irrelevante na formação do nosso sotaque - é apenas o do meio que conta (a não ser em casos de guetização e afins, mas isso é outra história).

Andreisidro disse...

Parabéns pelo texto. Está muito interessante. De facto reconheço todas essas características no sotaque Lisboeta, no entanto mantenho a minha opinião de que, em Lisboa, se fala com um português mais neutro. Eu vivi em Lisboa quase toda a minha vida e quase não uso nenhuma dessas características a falar (nem mesmo a tão habitual troca dos "sc" por "ch" como em "descer") e, como eu, a maioria dos meus amigos também não fala assim. Diriam os seus amigos mais "bairristas" que não somos verdadeiros Lisboetas e, em boa verdade, provavelmente não o somos. Aliás, não somos nós nem a esmagadora maioria dos habitantes de Lisboa. A verdade é que, pelo que tenho observado a esse respeito, o êxodo rural dos anos 80, fez com que fosse reunida em Lisboa uma amalgama de sotaques que nenhuma outra cidade portuguesa havia sofrido antes. A maioria dessas pessoas não interagiram com Lisboetas, mas sim com outras pessoas na mesma situação que estas. Diria eu, que tudo isso provocou uma neutralização do sotaque, ao invés de uma adaptação ao sotaque Lisboeta. Da mesma forma que vemos personalidades da televisão que se sabe serem do Norte, perderem (de propósito ou não) muitas das características do seu sotaque, mas não adquirindo um sotaque lisboeta. Dai a pensar que, apesar de haver sotaque Lisboeta, este não é falado na maior parte da cidade.

Cumprimentos

Vítor Lindegaard disse...

Muito obrigado pelo comentário, caro Andreisidro. É natural que o facto de haver imigrantes de muitas origens contribua para a diluição do falar local, como diz. E creio que há outros fenómenos que contribuem também para a uniformização do falar - estou a pensar, por exemplo, no aumento da escolarização e na difusão dos falares televisivos e radiofónicos, que evitam regionalismos de pronúncia e léxico. Parece-me que o que se está a passar com o português de Lisboa não é muito diferente do que está a passar com o português do Porto ou, sei lá, com o francês de Marselha... e com dezenas de variantes regionais um pouco por todo o lado.

Cumprimentos

Hugo disse...

Concordo com tudo

tuggaboy disse...

Em Lisboa (ou Lesboa como dizem muitos dos seus habitantes, que dizem falar sem sotaque - devem ser mudos, coitados) também se dizem mal palavras como mestrado (que dizem "mèstrado"), geração (que dizem "gèração" - é do verbo "gèrar", de origem brasileira, só pode), coelho/vermelho que se dizem pela capital "coâlho" e "vermâlho", etc... Cada vez mais se assiste, também, a uma substituição de "tês" (T) por "TSês" - isto é obra de Belzebu, só pode.

Marco Neves disse...

Tuggaboy: não se pode dizer que sejam formas erradas de falar. Geração e mestrado podem ser ditos assim. Há outras palavras com sílabas átocas de vogal aberta, como padeiro, actor, etc.

tuggaboy disse...

Marco, padeiro é verdade, ainda que há pouca gente que diz o a átono; mais gente diz padaria com o a átono, se bem que o a aberto está a ganhar em número. Actor tem o c que abre a vogal, regra básica do português. Mestrado e geração com o e aberto é sotaque de Lisboa, não é a forma correcta. Falei com professores, investiguei e posso afirmá-lo com 100% de certezas. Geração vem de gerar, não de gèrar. O sotaque padrão de Portugal é o de Coimbra e lá, quem ainda não foi apanhado no sotaque de Lisboa diz geração e mestrado, não põe acentos inexistentes.

Unknown disse...

tuggaboy concordo consigo, sou de LISBOA (C, de Ourique/digo Camp D´Órique), claro também digo , coâlho, apâralho, xapátos, pâxe, segunda fâra, etc..., sempre fui um aluno razoável a português e nunca dei erros a escrever, nunca ninguém me tinha criticado minha maneira de falar, porque outro artigo relacionado com este tema, cheguei a ser insultado por alguns »vaidosos» de Lisboa, de iletrado, analfabeto, etc..., mas talvez o defeito de muitos alfacinhas como eu «ciciam» em gíria popular »sopinhas de massa»

Vítor Lindegaard disse...

Muito obrigado por todos os comentários!

Caros Tuggaboy e Marco Neves, discuto os vossos comentários no mais recente texto da Travessa, "Geração e mestrado": http://llindegaard.blogspot.com/2016/04/geracao-e-mestrado.html

Saudações,

Vítor

Morgas disse...

Nao estou de acordo com um sotaque padrao de coimbra.Sou transmontano portuene beirao lisboeta alentejano algarvio madeirense açoriano baiano angolano catalhó parisiense galego espanhol emigrante falo com o sotaque q tiver tou me marimbando pro acordo, falo aberto vogais teste geraçăo gerador etc e tenho que aceitar q falem fechao os alfacinhas e betinhos tias de cascais, digam Ljboa q me enjoa, nao gosto de ouvir intelectuais dizerem feminino com i aberto e nao com i fechado'femenino' .Cada macaco no seua galho. Tuga era uma palavra depreciativa na guerra colonial quando os combatentes africanos se referiam aos portugueses colonialistas, agora cá na portuga tem outroI sentido , canomo diminutivo abreviado de portuga, como tb brasuca pode ser insultuoso para um brasileiro, como dizem os alemões depende das opiniāes.

Galrito disse...

Também há esta particularidade:
"Vais às aulas?" = "Vaizázaulas?"
"Vou comer os ovos" = "Vou comer ozóvos"

oblogdaalexis.blogspot.com disse...

Achei uma delícia ver-me ao espelho. Parabéns pelo texto. Lisboeta da colheita de 67, migrei há 3 anos para Abrantes e acho fantástico quando me dizem: "hum, nota-se que não és de cá" e nunca me souberam dizer o que me denunciava... Acho que isto os pode ajudar ahahahaha. Claro que, como em tudo na vida, não se aplicará a 100% mas se eu pensar bem muitas das coisas são automáticas e só nos apercebemos quando nos "abanam". Faltou um (se calhar mais) que eu demorei a "corrigir". Dizer "áuga" em vez de "água". Resumindo... Gostei!

Rui Represas disse...

Chelente trabalho. Ochutaqchs maizaçanhados são os do Brasil e das Ilhas. Mas o português, com todos os diverso'chutaques tem cada vez mais atendence p'adotar o do Brasil. Assim o "você" vem substituindo "o senhor ou a senhora" o que se torna por vezes ófenssivo (mesmo no Brasil, se reparardes bem), não é assim. Lá o você é o tu e dizem "vojmêcê" de maneiras que qualquer dia se irá tratar por "você" o Presidente da República e S.A.R. o Duque de Bragança. Órrível não é? (Quem se lembrá cá do "vossemecê" filho do "vossa mercê"?). Também um dos dois ténis deu um "téni". Piroso hein?! Também as calças foram dando "a calça". Pretencioso, eu diria. Há ainda o "vochência" ou "vochelência", cada vez menos usado. Ouro ou oiro? touro ou toiro? Noute ou noite? Roupa ou Roipa? Frouxo ou froixo?
E p'aí adiante. Também há o "Sants-ó-velho" no lugar de Santos o Velho. Dizeres que já se perderam: Carr'ilétrico, campo d'aviação,taberna, menza, ijnelas (janelas), Senhor Manjor, cravão, framácia, dótor (ainda hoje se diz "ó dótor!" por senhor doutor que deu "choutor" ou pior, s'tor (p'ós professores do secundário). Nós, os velhos, os "cotas" (neologismo) dizíamos "sôtor". Ainda se diz muito "o chôr" (também se usava outrora em "máriossoarez"). E agora o "j' gador" (em jesuêz, entrôtras 'muintas', 'muntas' ou 'm'tas vezes')bué d'avezes, (mais um neologismo infanto-juvenil). "Uó tiá. Tá vêre?". "Então vá" (aonde?) por ponto final. Sic transit gloria mundi. E para terminar com humor, quem não se lembra disto? "O número que Vossa Exª marcou foi alterado. É favor desligar e consultar a nova lista telefónica" agora: "desligue e marque..." (a entoação soa a vírgula... antes do "e marque"). (AH! Cinq'chõenzinhos; vinte mérreis; o tácsse). Ui, memória vai p'ó "memorião" o lixo p'ó "lixão", o vidro p'ó "vidrão" e o velho pó "velhão"... O menino para a "créche"... E assim...

Vítor Lindegaard disse...

Caro Morgas,

Obrigado pelo comentário. Concordo que nenhum sotaque vale mais que outro, mas é preciso haver alguma norma, por razões práticas (para transcrições nos dicionários, material de ensino da língua, etc.). Não creio que o sotaque padrão seja atualmente o de Coimbra, mas antes o lisboeta culto. É natural – o sotaque culto da capital é norma em vários países.

Caro Galrito,

Obrigado pelo comentário. O s, também como marca de plural, é pronunciado como um z entre vogais em quase todas as variantes do português, não há nisso nada de especialmente lisboeta.

Cara Paula Val e Rui Pedro Represas, muito obrigado pelas vossas contribuições.

Unknown disse...

Caro Vitor Santos Lindegaard,

Hoje foi-me enviado um artigo, presumivelmente da sua autoria, sobre a prevalência da pronúncia lisboeta e os supostos sotaques da capital lusa. Depois de ler o triste artigo, resta-me aconselhá-lo a observar um princípio universal de bom senso: deveremos limitar-nos a voos para os quais estejamos preparados. O Senhor permitiu-se, desde logo, a tecer considerações sobre a utilização da língua portuguesa num artigo muito mal escrito; o que revela o seu desconhecimento da língua portuguesa. Lamento informá-lo de que os comentários que faz, no artigo, sobre a pronúncia lisboeta, são absolutamente despropositados. O seu apelido denuncia o facto de porventura poder não ser português, ou não ter tido a sua formação em Portugal. É admissível, meu caro senhor, que quem não conheça a língua portuguesa possa ter dúvidas sobre a correcta pronúncia da mesma; já não é admissível que essa olímpica ignorância se transforme em exposição de cátedra. A língua de um país, meu caro Senhor, é uma realidade cultural e sociológica demasiado séria e digna para servir de enfeite jocoso no preenchimento de blogs pessoais. Terei muito gosto em aprender consigo aquilo que desconheço, mas aconselho-o vivamente a aprender português e a contactar com lisboetas que sabem falar. Posso compreender a sua eventual necessidade de se tornar conhecido e aplaudido, mas aconselho-o que o faça em matérias de que entenda e que não o ridicularizem. Haverá, certamente, assuntos sobre os quais saiba falar, transmitindo-nos a sua opinião - e só transmitindo a sua opinião, porque «falar de cátedra», meu Caro, é normalmente um exercício arriscado. Considere-me um amigo; o povo diz, desde há muito e independentemente do sotaque, que "quem nos avisa, nosso amigo é".

Vítor Lindegaard disse...

Caro Vasco Ribeiro,

Não faço ideia de que artigo está a falar, este texto é o único que escrevi e publiquei na minha vida sobre o sotaque lisboeta. Se está mal escrito, terei muito gosto em corrigir quaisquer erros que me queira apontar. O que é que está mal?

Quanto ao resto, deveria ter notado que uma pessoa que escreve como eu – por muito que produza textos na sua opinião mal escritos – tem de ser falante nativo. Que falta de perspicácia, caro Vasco.

Nasci em Lisboa, na Rua Leite de Vasconcelos (quando se vai da Graça para os Caminhos de Ferro, está a ver onde é?), vivi no Bairro Alto, nas Escolas Gerais, em Benfica e em Chelas. A minha formação académica é em língua e literatura – em Lisboa. Essa de o apelido estrangeiro denunciar porventura seja lá o que for não deixa de ter a sua graça.

Mas pronto, deixemo-nos de conversa de chacha e vamos ao que interessa: com que é que não concorda, especificamente? É que, com acusações tão vagas como as suas, uma pessoa não aprende nada. O que é que está incorreto?

Unknown disse...

Caro Vítor Santos Lindegaard,

Agradeço a sua resposta ao meu comentário. Agora que o conheço um pouco melhor e teve a atenção de se me dirigir, venho transmitir-lhe a razão e o tom do meu comentário.

Uma pessoa minha conhecida enviou-me, por graça, um texto editado num blog (creio que o seja), designado "Vortexmag". Fiquei arrepiado com o que li. O artigo, que começava, logo no primeiro período, por estar mal escrito em português, permitia-se, de forma catedrática, tecer considerações sobre a utilização da língua portuguesa.

Como poderá imaginar, não nutro o gosto ou o passatempo de me digladiar com as pessoas que falam e escrevem mal em português, ou não me sobraria tempo para as actividades que desenvolvo. Confesso-lhe, até, que tendo a adoptar cada vez mais a filosofia de ser «cego, surdo e mudo» ao ver o que vai sendo editado na internet. Quero com isto dizer-lhe que seria mais do que provável não ter feito qualquer comentário relativamente ao artigo.

No final do artigo existia um link que conduzia à fonte do mesmo. Foi assim, então, que tomei contacto com o seu blog, onde editei o meu comentário.

Confesso-lhe que o estilo do artigo, perante o conteúdo, me irritou um bocado; todos nós somos susceptíveis, afinal, a ter dias ou momentos de menor calma.

Um dia volvido, arrependi-me de porventura poder ter sido um pouco agressivo consigo. Hoje procurei o seu blog exactamente para lhe pedir desculpa pela agressividade que possa ter usado, embora «não retire uma vírgula» ao comentário que lhe dirigi.

Sabe o que me irritou? Não foi o facto de o artigo estar mal escrito ou a irrealidade das expressões nele contidas. O que realmente me irritou, e às vezes continua a não poder deixar de me irritar, foi o tom de cátedra com que o escreveu; isso, meu Caro, na altura «levou-me aos arames», como o nosso povo bem diz. A experiência de um velho professor universitário leva-o a não ser muito peremptório; as certezas absolutas são vulgarmente apanágio dos jovens estudantes. Também a humildade deve saber fazer o seu caminho...

Sugeriu-me que lhe desse algum exemplo de erro de português; vamos a isso.

O artigo que li começava assim:

"Já algumas vez entrou em discussão com um amigo alfacinha tentando-o convencer que ele também tem sotaque. Descubra 10 formas infalíveis de fazê-lo."

Há-de concordar que deveria ter sido escrito: já alguma vez entrou em discussão com um amigo alfacinha tentando convencê-lo que também ele tem sotaque? Descubra 10 formas infalíveis de fazê-lo.

Está de acordo? Deixar-lhe-ei a tarefa de reler o artigo para poder identificar outros erros, apenas mencionado outro erro que consta na sua resposta ao meu comentário.

Dr. Vítor Santos Lindegaard,

Os professores de instrução primária cansaram-se de nos explicar que em português, como em matemática, o produto da adição de duas realidades negativas é positivo. Recorda-se?
Na sua resposta ao meu comentário escreveu: "É que, com acusações tão vagas como as suas, uma pessoa não aprende nada.".

Suponho que queria dizer: «uma pessoa não aprende alguma coisa» ou, em alternativa, «uma pessoa aprende nada». Eu sei, eu sei, eu sei que muita gente comete este erro, tem razão, mas eu espero sempre que esses não teorizem sobre a utilização da língua portuguesa.

Relativamente ao facto de eu me ter referido ao seu apelido estrangeiro, por favor não o tome como ofensivo. Na realidade, aquilo a que chamou "falta de perspicácia" foi tão só "um acto de generosidade" da minha parte; acredite que quis emprestar-lhe a desculpa para ter escrito este artigo.

Reitero o meu pedido de desculpa pela possível agressividade do comentário inicial e não recuso a possibilidade de voltar ao seu blog para ler um artigo interessante, que não sobre a pronúncia dos lisboetas.

Os meus melhores cumprimentos.

Vítor Lindegaard disse...

Caro Vasco Ribeiro,

Antes de mais, quero pedir-lhe que não me trate por doutor, não sou nada dessas coisas. E passo a responder-lhe:

Como lhe disse, só escrevi este texto aqui. O outro texto que leu não é meu. Tem partes que foram plagiadas deste meu texto, mas, no conjunto, o texto deles não faz sentido nenhum, eles não fazem ideia sequer do que estão a falar. Quando me avisarem de que esse texto que tinha partes roubadas aqui, fiz alguma pressão para o retirarem, mas em vez disso, acabaram por pôr apenas um link para esta página. E eu desisti, não estive para me chatear mais. Esse "tentando-o convencer" não é meu. O que é meu é só o que está aqui neste texto, mais nada.

Quanto a "uma pessoa não aprende nada", não há aí erro nenhum. Em português, como em todas as línguas românicas, as duplas negativas sempre existiram e são corretas. Tenho visto ultimamente esse ideia de que são incorretas as duplas negativas, mas é uma ideia estranha, importada seguramente do inglês, já que é a lógica das línguas germânicas que se defende. Veja, por exemplo, estas respostas no Ciberdúvidas:
https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/a-dupla-negativa/12980
https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/sobre-a-dupla-negacao-nao-nenhum/29901
https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/a-dupla-negacao-no-portugues-e-nas-demais-linguas-romanicas/19355

Mais três abonações rápidas, que seguramente lhe agradarão:

Camilo Castelo Branco, no Amor de Perdição: "Eram dez horas e três quartos. Teresa correu ao fundo do quintal, abriu a porta, e, como não viu ninguém, voltou a correr para a sala." E não "Não viu alguém", obviamente, que isso é não é português.

Ramalho Ortigão, em as Farpas: "Houve um deputado que insistiu em que se afastasse o público dos liceus, porque muita canalha junta não aprende nada." E não "muita canalha junta não aprende alguma coisa", obviamente, porque isso não é português.

Luís de Camões, no Auto de Filodemo: "Solina: Pois eu também não sei nada." E não "Não sei alguma coisa", obviamente, porque isso não é português.

Resumindo: "uma pessoa aprende nada" é uma frase incorreta. A regra manda que, em qualquer frase negativas, haja SEMPRE uma negativa antes do verbo. "uma pessoa não aprende alguma coisa" poderá ser uma frase bem formada, em contextos muito específicos, mas não corresponde à frase portuguesa legítima "uma pessoa não aprende nada". Esta nega em absoluto a ocorrência de qualquer aprendizagem; aquela nega a aprendizagem de "alguma coisa".

Melhores cumprimentos,

Vítor

Unknown disse...

Caro Vítor Santos Lindegaard,

Primeiro que tudo, tenho a dizer-lhe que considero lamentável que tenham plagiado o seu artigo; na realidade constituíram-no responsável, aos olhos de quem lê o artigo, por uma série de disparates.

Não vou tecer qualquer outro comentário sobre a sua apreciação a respeito da dita «pronúncia lisboeta», nem ripostarei sobre a utilização da «dupla negativa». Cabe-lhe o legítimo direito de continuar a empreender nesse erro, visto que está genuina e visivelmente convicto de que a dupla negativa é a forma certa a utilizar em português.

Camilo Castelo Branco, o mais prolixo dos escritores portugueses, não deverá ser o melhor exemplo; tem textos interessantes, mas seguramente não teve tempo para se preocupar com a forma, como se sabe. Ramalho Ortigão e, até, Luís de Camões, esses sim, são-me mais caros. Registo a sua paciência de ter procurado exemplos em obras destes escritores. Acredite que muitos outros escritores, tão bons ou melhores do que estes, repetiram «descontraidamente» este erro popular. Confesso-lhe que esse erro não me fez desconsiderá-los, da mesma forma que não o desconsiderei por ter repetido o mesmo erro.
Sobre as »Ciber-qualquer coisa», meu Caro Vítor, estamos conversados...

Permita-me que lhe deixe uma observação, que poderá servir-lhe para ulterior e melhor esclarecimento. A «dupla negativa» não é de facto um qualquer capricho importado do inglês, como aventou. A dupla negativa é um erro também, por exemplo, nas línguas inglesa, francesa,italiana e alemã. Se me perguntar se muitos usuais falantes dessas línguas cometem esse mesmo erro, respondo-lhe que sim; em todos os países há, inevitavel e infelizmente, bastantes pessoas que falam e escrevem mal (infelizmente, cada vez pior), algumas, como o Vítor, cientes de que estão absolutamente certas.

Na sua comunicação anterior disse-me: "A minha formação académica é em língua e literatura"; por isso, tratei-o respeitavelmente pelo título académico que presumi caber-lhe. Recebi a sua resposta de que não é "nada dessas coisas". Espero, caro Vitor, que não estime como pejorativo que alguém tenha estudado e investigado até ser doutorado em uma ou algumas áreas.

Caro Vítor Santos Lindegaard,

Não manterei qualquer discussão sobre estes assuntos no seu blog. Limito-me a endereçar-lhe os meus melhores cumprimentos, fazendo votos para que tenha, no mínimo, a longevidade suficiente para poder rever as suas inabaláveis convicções.

Vítor Lindegaard disse...

Caro Vasco Ribeiro,

Foi fácil encontrar os exemplos, uma questão de dois minutos para as três abonações. E posso dar-lhe mais centenas delas, se quiser. De que autor quer? Já do seu lado não vejo nem citações, nem abonações, nem referências de espécie nenhuma. Acho que estamos no domínio da conversa de café. Importa-se de me indicar uma gramática de referência ou qualquer outro texto de autor reconhecido que corrobore o que defende? Bem vistas as coisas, é a si que cabe o ónus de provar o meu erro.

Não sei porque é que que diz que, em relação às respostas do Ciberdúvidas, estamos conversados, sinceramente. Indiquei respostas de Maria Regina Rocha https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/autores/maria-regina-rocha/63/pagina/1, A. Tavares Louro https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/autores/a-tavares-louro/505/pagina/1, Carlos Rocha https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/autores/carlos-rocha/433/pagina/1 e Pedro Mateus https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/autores/pedro-mateus/191/pagina/1. Que têm de mal estes consultores ou as suas respostas? A mim, parecem-me pessoas com excelentes credenciais.

E nisto andamos: nenhuma argumentação, nenhumas referências, insiste-se apenas que é assim porque é, porque eu digo que é, e descartam-se, sem mais, todas as opiniões contrárias, mesmo qualificadas. Que maneira estranha de discutir...

Melhores cumprimentos,

Vítor

CaveMan disse...

Brilhante resposta Vítor, a alguém que não se identifica. Arrasô! Sô ljboeta e, apesar de não viver em Ljboa desde os meus 8 anos (e tânho 54!) tânho muito orgulho na forma de falar da cidade onde nachi.
Agora a sério, esse orgulho surgiu por ter vivido noutras zonas do nosso belo país, desde o Alentejo até ao Alto Minho, passando pela Beira Litoral, onde tenho vivido a maior parte da minha vida. As pessoas dessas regiões também têm (e muito bem, goste-se ou não se goste das suas pronúncias...) orgulho na forma como falam.
Há um ou outro pormenor nos quais não revejo a forma de falar de Ljboa num comentário que foi feito ao seu texto, com um artigo do Doutor Vital Moreira. E porquê? Porque aí se refere que os lisboetas dizem coâlho e joâlho (é verdade...), mas também é verdade que noutras zonas do país, até bem distantes, acontece o mesmo! Por exemplo em Viana do Castelo. Vivi em Caminha e em Valença e aí as pessoas não dizem coelho, nem joelho, mas da mesma forma que em Lisboa. Então, em que ficamos, Doutor Vital Moreira? Quanto à questão que foi levantada num outro comentário, sobre a geração e o mestrado, só tenho a dizer que se geração vem de gerar, então mestrado vem de mestre e aí o E é aberto!
Como não sou linguista, mas simples falante da língua, nem pretendo entrar em discussões desse tipo, que muitas vezes têm forte carga regionalista e são, portanto, enviesadas. Contudo, isso fez-me lembrar que na maior parte das regiões do país se diz dezóito e não dezoito como na região do Porto, ainda que a palavra venha de oito. Lembrei-me, também, que o Pretérito Perfeito de verbos terminados em -ar (parar, levar, mudar...) sempre levou acento na primeira pessoa do plural até chegar o AO90. Curiosamente, a conjugação era lida e dita da mesma forma que se escrevia na generalidade do país, com uma pequena exceção na zona norte. No entanto, o referido Acordo Ortográfico introduziu a alteração que oficializou a dupla grafia (!!!) e pronunciação nesses casos! Assim, aquilo que antes era escrito parámos, levámos, mudámos hoje passou a poder ser escrito paramos, levamos, mudamos, tal e qual como no Presente do Indicativo, tendo gerado confusão em determinadas situações...
Seja como for, aquilo que aqui interessava era demonstrar que em Lisboa também há pronúncia característica e isso parece-me ter ficado demonstrado à saciedade.
Um bem-haja pelo sua bela reflexão e brilhante texto.
Helder Graça