Portugal,
disse-o muitas vezes nesta última década, foi um país que vi de facto mudar.
Desenvolver-se realmente. É mais fácil notar desenvolvimento quando lá se vai
de vez em quando que quando lá se vive todos os dias, creio eu. Mas é também
muito fácil deixar-se enganar por impressões, dir-me-ão. É certo. Neste caso,
porém, parece que as minhas impressões, quando cotejadas com os valores de
vários indicadores de desenvolvimento, tanto económicos como sociais, não eram
enganosas por aí além – Portugal desenvolveu-se mesmo muito desde que eu de lá
saí. É certo que não se desenvolveu, nalguns aspetos, tanto como eu gostaria que
se tivesse desenvolvido, ou tanto como poderia ter-se desenvolvido. Mas
desenvolveu-se muito. Agora, a destruição enraivada do Estado social vai dar
cabo de tudo, a pretexto da diz-que-necessária austeridade (a afinal mais-que-comprovadamente-inútil-para-os
propósitos-que-dizem-que-serve, a calamitosa, perversa austeridade…): do
desenvolvimento que se deu nos 15 anos em que vivi fora do país e do
desenvolvimento que se deu antes.
Vamos no verão
a Portugal para rever – é sempre bom – familiares e os amigos. Desses
familiares e amigos, há uns quantos (dois dos meus irmãos, por exemplo) que entretanto
saíram do país, porque não sabiam como ficar. Outros, se não encontrarem
emprego até ao verão, hão de lá estar ainda, mas desempregados. Muitos, todos,
creio eu, hão de estar tensos, revoltados. Hão de dizer-me que tu não sabes,
Vítor, como é que isto anda por cá e o que é ter um governo assim, mas eu sei,
posso não o sentir na pele, mas sei, então porque não havia de saber?
Jozef Israëls, Filhos do mar, 1872, Museu Nacional, Amesterdão
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