Têm tido alguma divulgação, e às vezes até fora das habituais páginas dedicadas a teorias da conspiração e palermisticismos new age, duas experiências realizadas por alunas do secundário, uma na Dinamarca e outra nos Estados Unidos da América, que revelariam os perigos das ondas de rádio de wifi e das micro-ondas, respetivamente. A verdade, porém, é que as duas experiências revelam, quando muito, o dinamismo das alunas que as realizaram e as suas convicções – e apenas isso.
Tem de se ir um bocadinho além do imediatismo das relações de causa e consequência que o senso comum estabelece para se ter uma proposta de verdade relativamente fiável. Para que duma experiência se obtenham conclusões suficientemente sólidas, há que fazer observações de controlo e o número de observações deve ser estatisticamente relevante, não é verdade? O plural de caso isolado não é dados, como costuma dizer-se. E é preciso ter um cuidado especial quando o investigador tem uma hipótese em que acredita à partida (o que parece ser o caso em ambas as experiências), porque isso pode levar a enviesamento inconsciente na observação. Uma boa maneira (a maneira normal, de facto) de lidar com esta possível parcialidade é o trabalho ser revisto por outras pessoas, especialistas na matéria, que não partilhem as convicções do autor do trabalho. Sem estarem satisfeitas todas estas condições de estabelecimento da probabilidade de uma relação causal, o bom senso manda que nos abstenhamos de concluir seja lá o que for.
Notem bem que não tenho a certeza de que o wifi seja perfeitamente inócuo para plantas e animais e que o micro-ondas não afete a água que ferve – nem isso, nem o contrário. Mas há bastantes estudos sobre ambos os assuntos e não é difícil, a quem queira mesmo explorar as questões, encontrar informação na Internet. No geral, os estudos realizados não encontraram perigos nem nas ondas de wifi nem efeitos negativos no aquecimento pro micro-ondas, mas há vozes discordantes. Acho bem que continue a fazer-se investigação sobre a questão. O que eu não acho bem é que se apresentem como conclusivas experiências que de modo algum o são.
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