29/01/22

Vista de uma janela

1. 

Na sua recensão do álbum Music for Nine Postcards (1982), de Hiroshi Yoshimura (revista Pitchfork, 15.11.2017), diz Thea Ballard:

Associa-se muitas vezes a música ambiente a uma espécie de interioridade psíquica, mas Yoshimura (…) fez música inspirada em lugares físicos e concebida para existir nesses espaços: para estações de comboio, desfiles de moda, etc.
Em 1982, Music for Nine Postcards foi o primeiro lançamento da série Wave Notation, de Satoshi Ashikawa; Ashikawa e Yoshimura definiram e defenderam aquilo a que chamaram «música ambiental», música que, segundo Ashikawa, «muda o caráter e o significado do espaço, das coisas e das pessoas». «A música», defende ele, «não se destina apenas a ser algo que existe sozinho.»

Por invulgar que possa parecer, a ideia aceita-se com naturalidade: em vez de exprimir uma maneira de sentir o mundo (um mundo interior, digamos assim) ou de constituir ela própria um mundo à parte, sem relação direta com nenhuma realidade, porque não há de a música fazer parte de um pedaço de mundo — imiscuir‑se no meio, ser ambiente?

2. 

Segundo Thea Ballard, o álbum «inspirou-se numa série de vistas de janelas». Não consigo, noutras recensões do álbum, confirmar a fenestral inspiração, mas há no álbum um tema chamado «View from my window»:
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Vista da janela do meu escritório
Publiquei uma vez no Facebook uma foto da janela do meu escritório e pedi aos meus amigos que publicassem nos comentários uma foto de uma das suas janelas. 

Não houve muita gente disposta a colaborar, mas ofereceram-me, ainda assim, três bonitas janelas.

Tamara Barile mandou‑me uma janela de S. Paulo.

Teresa Silva mandou-me uma janela do Dafundo/Cruz Quebrada.

Fernando Ramalho (Berlau) mandou-me uma janela sonora de Verderena, Barreiro, incluída numa compilação de janelas sonoras.

Maria Serrano mandou-me uma janela de Montreuil.

E J. J. Amarante Mandou-me uma janela dos Olivais, e eplica que a «casa amarela com uma pequena torre encimada por um telhado de 4 águas é a Bedeteca Municipal, adjacente à Quinta Pedagógica, da qual se vê o arvoredo e onde as crianças podem fazer pão, ver vários vegetais a sair da terra em vez de nas prateleiras dos supermercados e animais de quinta, ovelhas, vacas, cavalos, porcos, aves de capoeira, etc. A Bedeteca e a Quinta Pedagógica estão na antiga Quinta do Contador-Mor onde alegadamente o Eça de Queiroz escreveu Os Maias, no que seria um local de vilegiatura e agora é o Bairro dos Olivais.»

Recolher vistas de janelas não é uma coisa muito original. Há um grupo no Facebook, um site que deu dois livros e um site de repousantes filmes de 10 minutos. Mas não faz mal. Não têm uma vista de uma janela que queiram aqui pôr, por baixo das quatro iniciais? Se sim, mandem-ma por e-mail.

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São Paulo

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Dafundo/Cruz Quebrada

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Montreuil





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Olivais


1 comentário:

jj.amarante disse...

Tenho esta que já publiquei: https://imagenscomtexto.blogspot.com/2021/12/choupo-no-outono-e-yucca-aloifolia.html