22/12/23

Canções que referem outras canções #2: “Please Don't Bury Me” e “Give My Love to Rose”

Segundo post da série: um dos versos de “Please Don't Bury Me”, de John Prine (1973), é o título de uma famosa canção de Johnny Cash, “Give My Love to Rose” (1957) — provavelmente um piscar de olho de Prine a um dos seus ídolos. Uma função óbvia das referências a outras obras, musicais, literárias, pictóricas, ou de qualquer tipo, enfim, é declarar uma filiação. Uma espécie de mini-manifesto artístico: esta é a linha de autores e o projeto artístico em que inscrevo. 

Johnny Cash diz que escreveu “Give My Love to Rose” inspirado por conversa com um prisioneiro de San Quentin, que lhe pediu para dar um recado à sua mulher (do recluso, entenda-se…). A canção descreve o encontro do seu narrador com um homem que, tendo acabado de cumprir uma pena de prisão e no caminho de volta a casa, está agora à beira da morte, por doença, e pede ao narrador que dê cumprimentos seus à sua mulher, Rose, e ao filho que ele sabe que não poderá voltar a ver.

John Prine era um dos maiores escritores de canções americanos, que tanto sabia fazer boas canções sérias como boas canções humorísticas, como é o caso de “Please Don't Bury Me”. A canção inscreve-se no motivo de últimas vontades e testamento: John Prine conta que escorrega, bate com a cabeça e morre e, quando chega ao céu, lhe contam quais tinham sido as suas últimas palavras. As últimas vontades de Prine são deliciosas e «deem cumprimentos meus à Rose» é uma delas: 

« (…) Give my stomach to Milwaukee
If they run out of beer
Put my socks in a cedar box
Just get 'em out of here
Venus de Milo can have my arms
Look out! I've got your nose
Sell my heart to the Junkman
And give my love to Rose
But please don't bury me
Down in that cold, cold ground
No, I'd rather have 'em cut me up
And pass me all around
Throw my brain in a hurricane
And the blind can have my eyes
And the deaf can take both of my ears
If they don't mind the size (…)»

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