03/12/23

Mais uma estranha história de Natal [Crónicas de Svenddborg #48]


Uma vez contei aqui uma maravilhosa história de Natal que se passou connosco em Moçambique e que vos aconselho, se a não leram ainda. E como estamos agora a entrar nessa quadra, conto-vos outra. Não é tão bonita como a primeira, mas é como ela bastante surpreendente.

No princípio de 2023, se não me falha a memória (ou teria sido logo a seguir ao Natal?, a memória falha‑me muito…), recebemos uma estranha carta: vinha da Suécia e estava endereçada a Karen e Jan Lindegaard, no nº 3 da Slotsalléen. Nós moramos no nº 30. Era estranho recebermos uma carta para outro casal Lindegaard que nós nem sonhávamos que existisse aqui na aldeia; e mais ainda termos recebido uma carta para o nº 3. Estes serviços de correio! A explicação era, com certeza, o facto de morar aqui uma Karen Lindegaard — devia ter sido isso a causar a confusão.

Mas, afinal, não tinham sido os serviços de correio a entregar aqui a carta. Fomos logo ao nº 3, claro está, entregar o postal na morada certa, e ficámos a saber que não moravam lá nenhuns Lindegaard, e nem nenhuma Karen nem nenhum Jan. Tinham sido os moradores do nº 3 que, depois de uma breve pesquisa, tinham descoberto que havia uma Karen Lindegaard no nº 30 e nos tinham vindo pôr a carta na caixa do correio. 

Lindegaard não é um apelido comum, mas é originário daqui da Fiónia, ao que parece, e há aqui na região mais Lindegaards que no resto do país. Mas, por mais que procurássemos, não conseguimos descobrir mais nenhuns Lindegaards aqui em Troense e arredores. 

Decidimos abrir o envelope. Tinha lá dentro um postal feito à mão. Uma colagem com duas crianças ao fundo e o que parece ser um cão em primeiro plano, e votos de bom Natal, em sueco, de uma família Nordström. Nós não conhecemos nenhuma família Nordström. E porque havíamos de conhecer? O postal não era para nós. Ou era? Alguém que pensava que a Karen estava casada com um Jan? No nº 3 da nossa rua? 

Nada disto faz muito sentido. O postal, bom, há quem encontre algo sinistro na simpática foto familiar, mas isso também é ir longe demais, não vos parece? Há 20 anos, tudo isto me teria servido de inspiração para um conto do género fantástico. (E escrevo «um conto do género fantástico», porque, se escrever só «um conto fantástico», sou capaz de ser treslido como pretensioso…). Agora, serve só para um post de blogue…

Notem que os retângulos negros a cobrir os olhos dos miúdos não existem no postal original, também não exageremos na estranheza da missiva. Fui eu que os lá pus, para publicar a foto, porque não quero publicar fotos reconhecíveis de pessoas que não me deram autorização para as publicar.


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