O tempo passa por nós, então, ou nós andamos por ele afora. Muita gente o tem constatado: é assim, com imagens de movimento, umas vezes nosso, outras vezes do próprio tempo, que a gente diz essa perturbadora dimensão do mundo. Agora, por muito que as metáforas espaciais, como se lhes chama, nos possam ajudar a falar do tempo, a (tentar) fazer perceber ao nosso interlocutor como se organizam ocorrências e situações umas em relação às outras e em relação a ao eterno presente em que as dizemos, é verdade é que elas não nos servem para sentir a passagem do tempo.
[A parte séria (credo…) termina aqui, e o que se segue, terão de mo perdoar…, é mais delírio, desregramento do raciocínio...] Costumo viver o tempo da seguinte forma: às vezes, acumulam-se num mesmo espaço imagens de vários tempos; outras vezes, em vez de se acumularem, sucedem-se essas imagens de tempos diferentes. Mas vai tudo dar ao mesmo: a visão de qualquer coisa (um lugar, uma pessoa…) traz-me à consciência o arquivo de imagens dessa mesma coisa. A marca da passagem do tempo é o conjunto de diferenças visíveis entre as diversas imagens mentais, entre as que foram armazenadas em tempos diferentes e entre todas essas e a que tenho na altura diante de mim. Os tempos mudam-se, como as vontades, mas o tempo nunca muda, só as coisas é que mudam nele. Há até outra maneira, mais cruel mas também mais verdadeira, sinto eu, de dizer as coisas: Nem sequer são as coisas que mudam no tempo, o tempo é precisamente a mudança das coisas. Para visualizar o tempo como o sinto, acho mais eficaz do que uma seta ou um caminho a imagem da tinta que cobre uma parede. Que vai perdendo cor até começar a escamar, até cair por completo. Como eu vejo as coisas, a ideia mais forte que resulta da comparação de imagens de tempos diferentes é decomposição, desgaste, deterioração.
Sentir passar o tempo seria deprimente, acho eu, se não houvesse a morte. Mas assim não: o cronómetro é reposto a zero e adia-se constantemente, na vida que recomeça, a decadência do mundo.
ainda a banana
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