– Levem daqui esse homem!– diz o irado espetador. – Vai-te embora! Despe essa farda, pá! Despe essa porcaria desse uniforme, pá, antes que seja tarde demais!A resposta de Frank Zappa é célebre, pelo menos entre os seus cultores:
– Toda a gente nesta sala está de uniforme. Não te iludas.
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Estátua de homem romano com toga, séc. II d. C.
De Tindari, província de Messina, Sicília. Museu Arqueológico Antonio Salinas, Palermo. (Wikimedia Commons, daqui) |
Percebe-se bem, creio eu, onde Zappa quer chegar: mesmo os jovens contestatários da altura, que chocavam pelo seu vestuário extravagante, estavam a seguir um código de vestuário relativamente estrito. Já me aconteceu não poder entrar num bar por ir de jeans e blusão de cabedal, e também já me aconteceu não poder entrar por ir de fato completo… O padrão varia de lugar para lugar, de grupo social para grupo social, mas há sempre um padrão – ou não? E tem mesmo de ser assim? E deve ser assim?
Agora, um uniforme, bem vistas as coisas, também pode ter as suas vantagens. Quando vivíamos em Moçambique, os nossos filhos usavam uniforme na escola—como todas as crianças das zonas urbanas daquela parte de África, aliás, e de outras partes do mundo—e isso facilitava a vida de pais e filhos, porque não era preciso escolher diariamente a roupa e porque se estragava só o uniforme (que se destinava, em parte, a isso mesmo...). Havia também quem argumentasse, não sei se com muita razão, que era uma forma de diminuir as marcas de classe social, porque assim não se podia exibir roupa de marcas caras e outros sinais exteriores de abastança.
E depois, há uniformes de vários tipos, como dizia o Zappa. Trabalhei alguns anos no Centro de Línguas do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Dinamarca, em Copenhaga, e tornou-se claro para mim que havia aí também, mais que um código de vestuário, um verdadeiro uniforme: fatos cinzentos, camisas brancas ou azuis e sapatos pretos de atacador. Ok, podiam variar um pouco mais gravatas e meias, mas pouco. Por comodidade, adotei também esse uniforme não-oficial—também me dava jeito não ter de escolher roupa todos os dias e anonimizar-me mais naquele ambiente.
A minha mulher gosta de contar a seguinte história: um dia, era ela jovem e contestatária, criticou a sensaboria e a falta de personalidade do fato e gravata que o seu pai usava todos os dias.
– Sabes que eu quero que as pessoas oiçam com atenção o que tenho para lhes dizer. Então uso uma roupa em que elas não reparem, que seja o mais possível o que elas esperam que eu use—para não pensarem na roupa que eu visto em vez de pensarem no que eu lhes digo.
É uma escolha estratégica compreensível e estou convencido de que, de forma mais ou menos consciente, é essa a escolha de muita gente. Mas na estratégia não há moral. Se passarmos do ponto de vista tático ao ponto de vista ético, é exigível, parece-me, o contrário do que essa estratégia pressupõe: tenho direito a que ouçam o que tenho para dizer, independentemente da maneira como vá vestido; e tenho, claro está, direito a que não me julguem pela roupa que visto.
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* Entre as faixas “Little house I used to live in” e “Valarie”. Excerto gravado ao vivo Royal Albert Hall, Londres, a 6 de junho de 1969
1 comentário:
Tenho uma regulação de temperatura corporal menos boa pelo que uso 3 tipos de calças, de algodão e/ou linho (finos) (ou calções) no Verão, do que se chamava flanela no Inverno (no litoral português nem é muito frio) e intermédias na meia-estação, aqui incluo os jeans clássicos que são para mim excessivamente quentes no verão e frios no inverno.
Quando indaguei aos meus filhos há uns bons anos se não seria melhor usarem umas calças mais quentes no inverno disseram-me que era de todo impossível, a pressão social seria insuportável, tinham que andar sempre com jeans e com o corte respectivo adequado.
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