13/02/10

Dona Chica, Senhor Pires

Lembram-se desse maravilhoso dueto que se chamava “Dona Chica, Senhor Pires”? Não sei quem o cantava nem quem o escreveu, mas, se não me falha a memória, a letra da cantiga era pouco mais ou menos assim:

D. Chica: Só me dizia insolências / e a bater não era peco…
Sr. Pires: E hoje, vejam lá bòscências, sou fadista papo-seco!
D. Chica: Já só usa roupa fina / e até seda, quando calha!
Sr. Pires: Camisas de popelina / e as cirolhas são de malha...
D. Chica: Desprezou o canivete, / está mais manso que uma pomba…
Sr. Pires: Rapo a fuça c’a gillette / e ponho cremes na tromba.
D. Chica: Andava sempre co’a malta, / encharcado em água-pé…
Sr. Pires: Pois agora só me falta / ir tomar chá à Garrett!

Refrão
D. Chica: Aconselho-te a que tires o chapéu / quando na rua me vires!
Sr. Pires: Quem? Eu? Oiça: / Isto agora é outra loiça – Dona Chica!…
D. Chica: Sr. Pires!


Disto, já não se faz… Não que digo que seja melhor do que o que se faz agora, não é isso. Mas disto, assim desta maneira, já não se faz. E é pena, para quem, como eu, se delicia com este estilo de escrever letras que havia. O refrão, principalmente, é uma maravilha, porque, como isto agora é outra loiça, com chá na Garrett e tudo, então D. Xícara e Sr. Pires, precisamente! Ou só a mim é que isto soa assim?

Agora, mudando um bocadinho de assunto, mas só um bocadinho pequenino:

Quando não tenho nada que fazer, escrevo novelas faz de conta que policiais. É um hobby que eu tenho. É mesmo muito raro não ter nada para fazer, de maneira que é mesmo muito raro escrever novelas faz de conta que policiais – ainda bem para o mundo e ainda bem para mim, porque não há nada mais recomendável do que andar razoavelmente ocupado. Mas adiante. Na última novela faz de conta que policial que eu escrevi, havia uma passagem assim:

Jason Bothmann telefonou aos colegas enquanto Yvonne Toffler telefonava a Nelson Thorpes e depois meteram-se no carro, e dirigiram-se para o número 468, 2º Esq. da Rua Lutosławski, a residência e escritório de Per Aage Tence. Quando chegaram, já lá estavam Thorpes e os dois colegas de Bothmann.
Thorpes e Yvonne ficaram cá fora à espera, enquanto os três polícias subiram para ir buscar Per Aage Tence.
“Deus queira que eu me engane, chefe”, disse Yvonne a Thorpes, “mas é ele que está por trás disto tudo.


Quando acabei de escrever isto, notei que não havia, no que acabava de escrever, nada que chamasse a atenção de ninguém – e foi isso que me chamou a atenção. «Será que sou só eu a escrever assim?», interroguei-me. E fui verificar. Não sou: é bastante normal, quando se refere com um nome só as personagens de uma narrativa, que a mulher seja designada pelo nome próprio e o homem pelo apelido: a Yvonne e o Thorpes, a Chica e o Pires. E depois, como os pensamentos são como as cerejas, pus-me a pensar, que, em português, praticamente nunca se diz Senhora Pires nem Dona Pires. Nem nas novelas nem fora delas: É Dona Francisca ou Senhora Francisca. O homem é que, independentemente de usar ou não ceroulas de malha, tanto pode ser Senhor Pires como Senhor Francisco. E tudo isto me cheira a esturro, se querem saber... Bom, pelo menos não temos aquilo que há noutros lados de chamar Senhora Francisco Pires à mulher do Senhor Francisco Pires, valha-nos isso!…

3 comentários:

Amílcar Leitão disse...

Êxito de Beatris Costa na revista Pó de Maio estreada no Teatro da Trindade em Abril de 1929. Vai ser interpretada por uma orquestra ligeira de 18 elementos ( orquestra Centenário) nas comemorações dos 100 anos das Festas de Sobral de Monte Agraço os cantores são amadores locais. Entrada gratuita.

Anónimo disse...

O espectáculo é dia 8 de Setembro de 2013 às 22 h - Melodias desde o final do Século XIX até aos anos 60 do Século 20.

Vítor Lindegaard disse...

Obrigado, caro Amílcar Leitão. Não estivesse eu tão longe (na Dinamarca) e era capaz de lá dar um saltinho!