23/08/11

Crónicas de Svendborg #4 e Inventários #3: Da Dinamarca como país exótico

O exotismo é como a beleza de um célebre ditado inglês*: está nos olhos de quem acha exótico. No caso desta pequena selecção de coisas exóticas dinamarquesas, esses olhos são os meus, claro está. Mas não são os meus olhos de agora. A lista é de coisas que eu achava bastante exóticas quando aqui comecei a viver pela primeira vez, em 2001 – e que hoje já me parecem bastante normais…

- Amargermad, uma sandes de Amager. Não só é surpreendente existir uma sandes assim, uma fatia de pão escuro de centeio sobre um bocado de pão claro, com manteiga ou com um bocado de queijo no meio, como é surpreendente haver uma página da Wikipédia em dinamarquês dedicada a essa estranha sandes. A entrada da Wikipédia explica que “uma teoria proposta é que, a certa altura, era mal visto comer pão branco ao domingo, mas, estando o pão branco por baixo, Deus não o via”.
- Mellemlægspapir, papel para pôr no meio. É um papel absorvente que serve para se pôr entre as sandes (que são normalmente abertas, ou seja, um fatia de pão escuro com qualquer coisa lá em cima, donde a necessidade do papel) na caixinha de plástico que serve de lancheira!
A arte de “barrar merendas”, como se diz em dinamarquês. É entre estas sandes que se põe o tal papel…
- Rygeost, requeijão fumado,. Uma especialidade aqui desta zona. É fumado com palha de cereais e eu por acaso até gosto, mas é uma coisa um bocado especial… Exótica, enfim, com sabor a fumo… Também tem direito a página de Wikipédia

Rygeost, requeijão fumado
- Campeonato nacional de guitarra de ar, que é como quem diz, um campeonato para ver quem é o melhor a fingir que está a tocar guitarra.

 

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* Bom, eu conheço-o como provérbio inglês, “Beauty is in the eye of the beholder”, A beleza está nos olhos de quem olha”, mas, segundo Elizabeth Knowles, em The Oxford Dictionary of Phrase and Fable (OUP, 2005), o dito é muito mais antigo: “O provérbio está atestado em inglês a partir de meados do século XVIII, mas encontra-se nos Idílios de Teócrito (c. 300-260 a.C.), um dito grego do séc. III a.C. relacionado com ele: «Aos olhos do amor, o que não é belo parece muitas vezes que o é».” É claro, pode argumentar-se que é ir longe de mais relacionar a frase de Teócrito com o provérbio inglês, de tão diferentes que são. Agora, pode-se, isso sim (e deve-se, provavelmente), ver no aforismo de Teócrito a origem do provérbio português “Quem feio ama, bonito lhe parece”.

4 comentários:

Nuno (@gmail) disse...

Boa, não conhecia a Amagermad. Imperdoável para quem mora em Amager.

Uma sugestão gastronómica: rygeost com ovas de stenbider.

Vítor Lindegaard disse...

Bom, as ovas de stenbider são, para mim, como o rygeost: eu compreendo que as pessoas achem muito esquisito - mas gosto. Agora, claro, juntando as duas coisas, o resultado é capaz de não ser muito apetitoso. Mas só mesmo experimentando...

Nuno (@gmail) disse...

A primeira vez que experimentei a combinação de ovas de stenbider com rygeost foi no restaurante Fiskebaren. O resultado é mesmo apetitoso.

Vítor Lindegaard disse...

E eu a pensar que estavas a ser irónico, Nuno. Muito bem, havemos então de experimentar. E obrigado pela sugestão!